
Cesáreo Bandera
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Teoria Mimética e a Imaginação Literária
Cesáreo Bandera
Há um profundo paradoxo no cerne da teoria mimética. De um lado, a teoria mimética diz que não existe algo como objeto de desejo imediato ou direto. Não há nada no mundo que seja desejável em si ou por si mesmo. Os seres humanos somente desejam o que outros seres humanos desejam. No que se refere ao desejo humano, se existe uma realidade verdadeira, independente, sempre estará fora do alcance, será desconhecida e totalmente irrelevante para o desejo. Portanto, o desejo humano pode ser somente o terreno propício de um mundo imaginário. Ficção e desejo humano são inseparáveis. O que o desejo pode criar para si e por si mesmo a não ser uma mera aparência de realidade, de verdade; em outras palavras, uma ficção?
De outro lado, a teoria mimética está fundamentalmente ligada à verdade. Ela descobre não somente a mentira romântica, mas também a verdade romanesca. Ela nos diz, por exemplo, que, exceto em algumas palavras de genialidade, as criações de desejo ficcionais denominadas romances mentem, não dizem a verdade. Mas como isso é possível? Como se sabe isso? Como essas criações ficcionais ou imaginárias podem ser acusadas de não dizerem a verdade, se não podem dizer a verdade? |