
Stéphane Vinolo
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René Girard e a Fenomenologia Impossível da Doação
Stéphane Vinolo
Tanto a antropologia clássica quanto a estruturalista, através de Mauss e Lévi-Strauss, sempre valorizaram de forma positiva o sistema de doação tal como foi analisado no conceito de potlatch. Este supõe que cada um devolva o que em algum momento recebeu para que possa circular o reconhecimento social dentro das sociedades humanas. Este sistema de doação obedece a leis muito estritas segundo as quais não se pode devolver nem muito mais nem muito menos do que se recebeu, visto que essas diferenças criariam situações de dívidas que poderiam ser semelhantes a alienações ou a humilhações que ameaçariam a estabilidade social. A reciprocidade da doação deveria, então, para ser pacífica, ser absolutamente simétrica. Com Girard, mostramos que o sistema de doação tampouco pode ser totalmente simétrico, já que estaria, então, muito perto e parecido com o sistema da circulação mimética e simétrica da violência, tal como aparece no sistema da vingança. Girard nos permite então, além da antropologia, pensar que a reciprocidade é ao mesmo tempo a condição de possibilidade da estabilidade social – já que a não reciprocidade gera violência – porém, ao mesmo tempo a sua condição de impossibilidade – já que a simetria também produz violência. Poderemos, então, determinar a reciprocidade necessária para toda sociedade vendo que esta deve ser diferida tal como determina toda a obra de Girard. Só o conceito derridiano de “différance” permite manter ao mesmo tempo a necessidade da presença da reciprocidade, considerando, porém, essa presença como ausência com o objetivo de nos proteger da mecânica da violência mimética. |