Diálogos das Carmelitas é mais um romance do escritor francês Georges Bernanos.
Considerado um dos escritores mais renomados da literatura do século XX, Bernanos conta a história de dezesseis irmãs carmelitas do mosteiro de Compiège que foram condenadas à morte.
A obra, traduzida por Roberto Mallet, é dividida em cinco partes. Integrante da Coleção Georges Bernanos, o livro Diálogos das Carmelitas tem como base as acusações de fanatismos de religiosas, algo típico dos anos 1790, período da Revolução Francesa.
Um excelente exemplo de romances franceses de qualidade, Bernanos toma como ponto de partida a obra da escritora alemã Gertrud von Le Fort, A Última ao Cadafalso.
Diálogos das Carmelitas foi concebido originalmente em 1948 para o roteiro de um filme que chegou às grandes telas apenas em 1960. A trama também se tornou libreto da ópera homônima de Francis Poulenc.
Para apreciadores da boa literatura — sobretudo católicos —, Diálogos das Carmelitas é uma leitura que não pode faltar, pela qualidade dos próprios diálogos e pelo conteúdo religioso: a renúncia, o sacrifício e o medo. O livro foi escrito nos últimos momentos da vida de Georges Bernanos e publicado postumamente.
Confira trechos da obra!
Trechos de Diálogos das Carmelitas
MARQUÊS
Ora! É esta velha cabeça também que esquenta muito rápido. Mas qual é a semelhança, pergunto eu, entre o que vi naquela vez e uma rebeliãozinha casual, um desfile de bêbados pelas ruas de Paris? Minha carruagem é resistente, os velhos cavalos não se assustam com nada, Antônio está a nosso serviço há vinte anos, e os dois lacaios são ex-soldados do Regimento de Navarra. Não pode acontecer nada de mau à sua irmã.
CAVALHEIRO
Oh! Não é pela segurança dela que eu temo, o senhor sabe, mas pela imaginação doentia.
MARQUÊS
De fato, Branca é muito impressionável. Um bom casamento arranjará tudo. Vamos! Vamos! Uma jovem bonita tem o direito de ser um pouco medrosa. Paciência! Você ainda terá muitos sobrinhos fazendo mil diabruras por aí.
CAVALHEIRO
Acredite: o que ameaça a saúde de Branca, ou até sua vida, não pode ser somente o medo. Ou então é um medo recalcado até o fundo do ser, é o gelo na medula da árvore… É, meu senhor, acredite, há alguma coisa no caráter de Branca que ultrapassa o entendimento comum. E talvez em um século menos esclarecido que o nosso…
MARQUÊS
O quê! Fala como um camponês supersticioso. A afeição que sempre teve por sua irmã está lhe perturbando o espírito. Branca me parece quase sempre natural e, às vezes, até radiante.
CAVALHEIRO
Oh! Sem dúvida, pode ser que eu esteja enganado e acreditaria mesmo num bom destino se não visse sempre a maldição no seu olhar. O que a voz pode ocultar, o olhar revela; é no olhar, não na voz, que o medo se trai, foi o que aprendi a serviço do Rei, embora ainda seja um novato… Mas de que serve dizer-lhe o que outras guerras mais terríveis já lhe ensinaram, bem antes que eu nascesse?
Em outra cena, quando o Cavalheiro está conversando com Branca, discorre o seguinte diálogo:
CAVALHEIRO
Já que vai recolher-se em seu quarto, peça logo uma lâmpada e não fique sem companhia. Sei que o crepúsculo sempre a deixa melancólica. Dizia quando era pequena: “Morro toda noite para ressuscitar a cada manhã”.
BRANCA
É que somente houve uma única manhã, senhor Cavalheiro: a de Páscoa. Mas cada noite que começa é a da Santíssima Agonia…
Seu pai, o Marquês, vai conversar com Branca, que confessa:
BRANCA
Eu não desprezo o mundo, e não é bem medo que sinto dele; o mundo para mim é como um elemento em que não consigo viver. É, meu pai, não posso suportar fisicamente o seu ruído, a sua agitação; as melhores companhias me esgotam, qualquer movimento na rua me atordoa, e quando acordo de noite, espio com desagrado através das cortinas o rumor dessa grande cidade incansável, que só adormece quando raia o dia. Poupem-me os nervos dessa provação e verão do que sou capaz. Condenaria um jovem oficial que renunciasse a servir na armada do Rei porque não suporta o mar?
Em outra cena, quando Branca se encontra com Priora do Carmelo, senhora de Croissy, a Madre Maria de Santo Agostinho:
PRIORA
Lembre-se, porém, que as obrigações aparentemente mais leves são muitas vezes, na prática, as mais penosas. Transpomos uma montanha e tropeçamos numa pedrinha.
Em outro quadro:
PRIORA
Como quiser… Mas responderá agora se lhe perguntar qual é, no seu entender, a primeira obrigação de uma carmelita?
BRANCA
Vencer a natureza.
PRIORA
Muito bem. Vencer não é forçar, a distinção tem consequências. Querendo forçar a natureza, só se consegue ficar pouco natural, e Deus não pede a suas filhas que representem uma comédia todo dia, mas que lhe sirvam. Uma boa serva está sempre onde deve estar e jamais se deixa notar.
BRANCA
Tudo o que peço é passar despercebida…
O melhor da literatura francesa
Além da história de Branca, o livro Diálogos das Carmelitas também conta a história das Irmãs Catarina, Felicidade, Gertrudes, Alice, Valentina da Cruz, Matilde, Ana, Marta, das madres Maria da Encarnação, Joana do Menino Jesus, entre outros personagens.
Outra sugestão de leitura dos romances de Georges Bernanos é Joana, Relapsa e Santa, uma leitura breve, porém com a mesma qualidade das outras obras de Bernanos.
Joana, Relapsa e Santa é um depoimento poético e fervoroso que permite não apenas conhecer o estilo de Bernanos, como também o grau de sua fé.
A propósito, leia nosso perfil exclusivo: Georges Bernanos, o católico fulminante!
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