Diário de Oração, livro de Flannery O’Connor, é um dos mais recentes lançamentos da É Realizações, com tradução e prefácio de Hugo Langone.
Na verdade, o lançamento é um composto de duas obras: Diário de Oração e Mistério e Costumes. Ambas com o belíssimo projeto gráfico assinado por Daniel Justi.
As obras da renomada escritora americana — considerada uma das maiores do século XX — são dessas que não podem faltar em sua biblioteca.
Ideal para conhecer um pouco mais desse talento que deixou o mundo tão cedo — infelizmente, O’Connor morreu aos 39 anos —, Diário de Oração é um livro envolvente e tocante.
Já sobre o segundo livro, Mistério e Costumes, você conhece um pouco mais no artigo especial: Mistério e Costumes: reflexões sobre literatura por Flannery O’Connor.
Os lançamentos são tão especiais que será difícil escolher por qual livro começar!
Quem foi Flannery O’Connor?
Mary Flannery O’Connor nasceu em 25 de março de 1925, em Savannah, Geórgia, e passou a maior parte de sua vida no sul dos Estados Unidos.
Conhecida pela prosa afiada, seus dois romances, Sangue Sábio e O Céu é dos Violentos — juntamente com vários contos —, apresentam personagens memoráveis.
Como católica devota, Flannery O’Connor explora em suas tramas temas que envolvem sua fé, a graça, a redenção e a natureza do mal.
Em resumo, a complexidade da natureza humana, são constantes em sua literatura.
Flannery O’Connor graduou-se em Ciências Sociais e iniciou sua carreira literária durante o mestrado em Escrita Criativa, realizado na Universidade de Iowa.
Prematuramente, a escritora faleceu em 3 de agosto de 1964, aos 39 anos, devido a complicações causadas por lúpus, uma doença autoimune que afeta o sistema imunológico.
Em termos gerais, o lúpus ataca tecidos saudáveis do corpo humano, causando inflamações e danos às vezes irreparáveis, como foi o caso de Flannery.
Curiosamente, a mesma doença matou seu pai, Edward O’Connor; quem, inclusive, a encorajou na carreira literária, desde muito cedo.
Que tal conhecer agora um pouco mais sobre os dois romances escritos por Flannery O’Connor?
Romance O Sangue Sábio
Sangue Sábio é um romance de Flannery O’Connor publicado em 1952.
Ambientado no sul dos Estados Unidos, região onde passou a maior parte de sua vida, o livro conta a história do jovem ex-soldado Hazel Motes, que retorna da Segunda Guerra Mundial.
O cerne da obra é o conflito interno que o personagem trava após vivenciar os horrores da guerra, relacionando-os à religião e à moralidade.
Hazel Motes acaba fundando sua própria igreja, que se chama “Igreja sem Cristo”. A atitude desafiadora o leva a uma série de eventos perturbadores.
Um traço marcante da literatura de Flannery O’Connor é que sua fé em nada a impede de criar histórias provocantes.
Apesar das abordagens incômodas, o romance explora valores fundamentais para a autora, como a fé, o sentido da vida e a redenção.
Romance O Céu é dos Violentos
O Céu é dos Violentos é o segundo romance de Flannery O’Connor, escrito em 1960, e hoje considerado um marco da literatura americana.
A narrativa segue a história de Francis Marion Tarwater, um garoto de catorze anos designado pelo tio para a função de “profeta”, responsabilidade da qual tenta se esquivar a todo custo.
Ao longo da história, Tarwater se enreda em batalhas internas dolorosas contra sua fé — que é inata —, e tenta sufocar as vozes que o convocam para essa missão profética.
Os contos de Flanney O’Connor
Flannery O’Connor possui inúmeros contos famosos, entre eles:
- A Boa Pessoa de Setagaya
- Um Bom Homem é Difícil de Encontrar
- A Vida que Você Salva Pode Ser a Sua
- Parker’s Back
- Tudo o Que Sobe Deve Convergir
- Refugiado de Guerra
- O Gerânio
- O Barbeiro
- Revelação
- Um Vislumbre do Redentor
- Os Aleijados Entrarão Primeiro
- Ninguém Pode Ser Mais Pobre que os Mortos
- Um Templo do Espírito Santo
- O Peru
- A Colheita
Confira trechos de Diário de Oração
“O inferno parece muito mais factível à minha cabeça fraca do que o céu.”
“Deus querido, ando tão desanimada com minha obra. Tenho, isto é, a sensação de desânimo. Percebo que não sei o que percebo.”
“Deus querido, não quero ter inventado minha fé a fim de satisfazer a minha fraqueza. Não quero ter criado Deus à minha imagem, como costumam dizer tanto por aí. Por favor, meu Senhor, dá-me a graça necessária, e por favor não permitas que seja tão difícil consegui-la quanto Kafka dá a entender.”
“Talvez a esperança só se realize se em contraste com o desespero.”
“Deus deve estar em toda a minha obra. Tenho lido Bernanos. É maravilhoso demais. Chegarei a saber um dia o que quer que seja?”
“Não há ninguém que me possa ensinar a rezar?”
“Não pode ser ateu quem não conhece todas as coisas. Só Deus é ateu. O demônio é o maior dos crentes e tem lá seus motivos.”
“Os deleites intelectuais e artísticos que Deus nos dá são visões, e como visões nós pagamos por elas; e a sede de visão não necessariamente carrega consigo a sede do sofrimento que a acompanha. Ao olhar para trás vejo que não sofri meu quinhão, só o suficiente para o chamar de sofrimento, mas há um imenso saldo devedor. Deus querido manda-me por favor a Tua Graça.”
“Devo deixar por escrito que serei artista. Não no sentido de arrebique estético, mas no da destreza estética; do contrário sentirei continuamente minha solidão — como esta de hoje.”
“Quero ser a melhor artista que me é possível ser, sob Deus.”
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