Quem assistiu ao filme Golda – A Mulher de Uma Nação e leu o livro O Impasse de 1967, de Micah Goodman, pode ter uma compreensão muito mais aprofundada acerca do recorte da película, dirigida por Guy Nattiv e estrelada por Helen Mirren.
O Impasse de 1967, obra integrante da Coleção Oriente Médio, é — mais do que nunca —, um livro urgente para entender os conflitos que envolvem Israel – e como eles impactam todo o mundo.
Assim como assistir ao filme Golda, entre outros com a mesma temática, a leitura de todos os livros da Coleção Oriente Médio é recomendadíssima! Dado que elas se complementam, tornam-se fundamentais para compreender essa e outras demais tramas cinematográficas.
O filme, lançado em agosto deste ano, é focado na figura de Golda Meir, primeira-ministra de Israel – única mulher a ocupar o cargo e a primeira a ocupar cargo de liderança desse porte no Oriente Médio.
Golda Meir esteve à frente do país na Guerra do Yom Kippur, em 1973, quando Israel foi invadido pela Síria e pelo Egito.
O filme contribui bastante para a compreensão do ocorrido, sobretudo a importância de uma liderança política – a exemplo de Churchill.
Filme Golda: quem foi Golda Meir?
Golda Meir foi uma política israelense, nascida na capital da Ucrânia, Kiev, em 3 de maio de 1898.
Como quarta Primeira-Ministra de Israel, Meir serviu de 1969 a 1974, foi a primeira mulher a ocupar o cargo em Israel, e a terceira mulher a ser chefe de governo de um país no mundo inteiro.
Antes de se tornar Primeira-Ministra, Golda Meir desempenhou outros papéis importantes no governo israelense, incluindo sua atuação como ministra das Relações Exteriores e embaixadora de Israel nas Nações Unidas.
Meir também foi defensora fervorosa dos direitos do povo judeu e uma das arquitetas da política de assentamentos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Ela é lembrada por sua determinação e liderança durante um período crítico na história de Israel.
Apesar de o recorte do filme ser outro, o livro O Impasse de 1967 fornece um excelente embasamento sobre toda a complexa história de Israel.
Com tradução de Debora Fleck, a publicação tem como subtítulo A Esquerda e a Direita em Israel e o Legado da Guerra dos Seis Dias.
Durante a leitura, é possível compreender conceitos como identidade política, identificação intelectual, intolerância política e religiosa, sionismo, conflito árabe-israelense, antissemitismo, entre outros.
Confira trechos do livro!
Trechos de O Impasse de 1967
“Não foi apenas a direita que passou por mudanças profundas; o mesmo aconteceu à esquerda. Em sua origem, o foco da esquerda israelense não era a paz. Por muitos anos, após ter surgido, a paixão da esquerda era o campo social, e não o campo político. Seu principal objetivo era fomentar a solidariedade entre os trabalhadores, não a paz entre, as nações. Por muito tempo, os líderes do histórico movimento trabalhista — David Ben-Gurion, Moshe Dayan e Golda Meir — foram extremamente céticos quanto à possibilidade de se alcançar uma paz duradoura com os árabes.”
“A esquerda dizia que a paz era uma ilusão, e nenhum acordo reduziria o ódio implacável que o mundo árabe nutria por Israel. Essa profunda desconfiança reverberava nas palavras e nas ações. Em 1971, o governo de Golda Meir rejeitou as propostas do Egito para uma resolução diplomática do conflito entre as duas nações.”
“Se a esquerda não acreditava na paz e não tinha esperanças de chegar a um acordo, qual era sua ideologia? Antes de empreender sua guinada histórica, a preocupação da esquerda não era elaborar iniciativas diplomáticas, e sim criar uma sociedade socialista exemplar.”
“Para a esquerda sionista, o propósito do sionismo era livrar os judeus de um passado de exploração para conduzi-los a um futuro de solidariedade. O presente era difícil, argumentavam, porque todos os períodos de transição são assim. Porém, tinham certeza de que aquela realidade penosa daria lugar a uma nova era de fraternidade entre os trabalhadores judeus, em clima que inspira toda a humanidade.”
“Logo ficou muito nítido que a União Soviética não apenas era anti-Israel, como também era institucionalmente antissemita. Milhões de judeus oprimidos se viram-se de repente aprisionados atrás de suas grades de ferro. Mais tarde, quando vieram à tona os terríveis crimes de Stálin, em 1956, descobriu-se que o regime soviético, para além de ser anti-Israel ou antissemita, era também anti-humanidade.”
“No momento em que os Estados Unidos viraram a maior potência ocidental, tornaram-se também o principal apoiador de Israel. Assim, enquanto os judeus americanos cresciam e prosperavam, seus correligionários na União Soviética continuavam lutando contra a opressão. O capitalismo americano acabou se espalhando por todo o mundo, a economia israelense começou um processo de privatização e o sistema educacional do país iniciou um acelerado programa de americanização.”
“A questão da paz ocupa um lugar central na história política de Israel. Como vimos, foi a paz que sucedeu o socialismo como ideal máximo da esquerda, resgatando assim a própria esquerda de uma possível crise intelectual. Porém, quando a ideia da paz ruiu, nenhuma outra ideia otimista assumiu esse lugar. A crise intelectual que deveria ter acontecido com o colapso do socialismo só foi despontar quando as iniciativas de paz fracassaram.”
“O sionismo religioso nem sempre foi do âmbito da direita. A grande guinada nessa vertente do sionismo aconteceu na década de 1970, ancorada nos eventos de junho de 1967. Em seis dias de guerra, o mundo dos sionistas religiosos se viu completamente modificado. A guerra foi interpretada como nada menos que um episódio bíblico. A vitória de Israel foi encarada como um verdadeiro milagre; além disso, os judeus retomaram seu núcleo bíblico ancestral. Depois da guerra, a história israelense passou a ter ares cada vez mais divinos. Parecia que Deus tinha retornado à história.”
“A nova direita e a nova esquerda são imagens espelhadas uma da outra. A nova esquerda não fala mais que a retirada dos territórios trará a paz. Porém, acredita que manter a presença militar só causará desastres. A nova direita não fala mais que assentar os territórios trará a redenção.”
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