Abismos da Leveza — Por uma filosofia pluralista é um livro profundo e revelador de conceitos, assinado pelo filósofo Rodrigo Petronio. A obra é fundada em interpretações autorais desses conceitos e subconceitos, que fazem parte do universo contemporâneo.
“Tudo coexiste antes de existir. Todo ser emerge de um entre-ser”, escreve Petronio na apresentação.
Com prefácio de Lucia Santaella, a publicação possui 400 páginas de ensaios e aforismos inéditos, além de alguns que já foram publicados em grandes veículos. O livro está dividido em três partes.
- Seres — Mesologia e Mereografia
- Mundos — Mesologia e Pluriversos
- Vidas — Mesologia e Hominização
Os títulos das seções são escritos no plural com o objetivo de “demarcar a impossibilidade de unificação dessas instâncias dentro de si ou entre si”, como salienta o autor.
Além dos mesons — que se afasta do pensamento holista, totalizador e transcendentalista — Rodrigo Petronio reposiciona, em suas próprias palavras, “três dos conceitos mais marginalizados da história do pensamento: o pluralismo, o atomismo e o infinitismo”.
De acordo com o escritor, esses conceitos constituem o âmago da mesologia. A edição, que faz parte da Coleção Crítica, História e Teoria da Literatura, oferece ainda nove ensaios de Mário Dirienzo:
- Encarando a Técnica com Arte
- Ensaios de Ficção
- Formações de Mundo
- Nas Entranhas da Lei
- O Dia da Ira e o Cinismo de Cada Dia
- A Origem das Espécies e as Espécies de Origem
- A Espécie e a Quintessência
- Do Macaco ao Homem, ao Super-Homem, ao…
- O Ex-Mortal
Vale ressaltar que o fio condutor entre os ensaios de Abismos da Leveza é a teoria dos mesons, ou mesologia, que se trata de uma teoria geral dos meios. O livro é resultado da tese de doutorado do autor.
Confira trechos de cada parte de Abismos da Leveza!
Confira trechos da seção “Seres”
Na primeira parte, Rodrigo Petronio escreve de forma livre, oscilando entre ensaios, prosas e poesias. Por exemplo, no ensaio “Por uma arte menor”, reflete sobre a importância dos detalhes:
“Sim, a literatura tem uma vocação épica. Mas o que seria de Ulisses se, de volta a Ítaca disfarçado de mendigo, não fosse reconhecido por sua ama, por causa de uma mínima cicatriz? O que seria dos sete volumes da busca pelo tempo perdido empreendida por Proust, se não fosse o tenro aroma de uma madeleine mergulhada em uma xícara de chá? Essas e outras sutilezas levaram o grande crítico judeu alemão Erich Auerbach a se ater aos elementos cotidianos mínimos presentes na literatura. Assim, finalizou a monumental ‘Mimesis’, uma história de representação da realidade na literatura ocidental, analisando como Virginia Woolf depreende o universo ficcional interior de uma personagem a partir de seu modo de tricotar uma meia marrom.”
Já no ensaio “Steven Pinker: muito além de anjos e demônios”, tece uma análise acerca de Os Anjos Bons de Nossa Natureza:
“Anjos e demônios não são duas formas finais da natureza humana em uma batalha caricata. Eles são uma encruzilhada onde se encena a fatalidade de termos de escolher o que somos. Se conseguirmos suprimir o papel desempenhado pela violência como uma necessidade adaptativa da espécie, a violência simplesmente perderá sua razão de ser. Somos uma das maiores aberrações do universo. E em termos evolucionários não deveríamos sequer ter existido. Mas também é preciso reconhecer: conseguimos fazer algo de bom nesses milênios sobre a Terra. Nesse sentido, a paz deixará de ser uma hipótese escandalosa.”
“Em geral, pensamos a literatura a partir de sua função social, seu conteúdo psicológico, questões de estilo. Sempre com essa ênfase em seu aspecto externo, esquecemos o fundamental: a literatura é acima de tudo um diálogo expandido. Um eu-tu apreendido em estado de graça. Oscilação incessante entre intimidade e solidão. Uma conversa infinita, como diria Maurice Blanchot. Por isso, paralelamente à criação dos artifícios e dos engenhosos mecanismos de linguagem que a constituem, a literatura teria surgido de um simples aprofundamento de situações reais de intimidade.”
Veja na íntegra outros ensaios de Abismos da Leveza:
- As ilusões do eu: Montaigne e o ensaio
- Deus não é grande
- Machado de Assis e a inveja criadora
- A leveza insustentável de Gilles Lipovetsky
Confira trechos da seção “Mundos”
Nessa seção, o autor aborda temas relacionados à cosmologia, sobretudo aos pluriversos de William James.
“Como se sabe, o conceito de ser foi desenvolvido pelos pensadores physikoi, anteriores a Sócrates.”
“O ser está em tudo, arremata o mesmo pensador, corroborando a premissa de que a totalidade da natureza e a totalidade do pensamento coincidem na esfera una, perfeita e circular do ser.”
“Como diria William James, estaríamos aqui no âmbito de pluriversos. A mesologia pode ser definida como uma teoria geral das relações contingentes estabelecidas entre essas multiplicidades de ontologias, meios e mundos, ou seja, uma teoria de pluriversos atuais, virtuais e possíveis.”
No ensaio “Alteridades”, o pensador escreve:
“Embora a alteridade seja um conceito central para todas as chamadas filosofias da consciência, é importante criarmos outras abordagens e explorarmos as virtualidades ainda pouco exploradas desse conceito.”
“A alteridade é a percepção da outridade dos entes em relação a uma identidade que os constitui como os entes que são. Em outras palavras, a alteridade é o princípio que rege a diferenciação dos seres entre si, em uma espiral infinita, um círculo sem circunferência que exorbita a consciência humana e transcende o oceano do universo, e irradiando-se em pluriversos, transmundos e metacosmos em forma de elipses cujos centros todos são virtuais e atuais, nunca potenciais. Essa concepção de alteridade desvinculada da consciência e do humano, concebida como ontogênese e cosmogênese, vincula-se a uma imagem de um universo em cascata, desdobrado em um horizonte de absoluta excentricidade.”
Confira trechos da seção “Vidas” em Abismos da Leveza
Por fim, nessa parte, Rodrigo Petronio reflete sobre as narrativas e suas diversas definições.
“Quando o assunto é clima, aquilo que parece solução quase sempre é fantasia. E, na linha dos viesses cognitivos, nos planos político e econômico todos apelam para aquilo que Thomas Piketty define como “aparato da justificativa”. Todos os problemas se tornam insolúveis, pois para cada não solução de um problema existe uma justificativa. Sob todos os pontos de vista que se observe, a solução para o desastre do clima é apenas uma: tecnologia.”
“Pensadores tanto de esquerda quanto de direita valorizam a revolução econômica baseada no capitalismo fóssil. Tanto que, desde o fim da Guerra Fria, as emissões de carbono têm aumento devido à corrida pela conquista dos mercados de energia não renovável.”
“Nesse contexto, surge o conceito de ‘fim da natureza’ (Bill McBibben). Não diz respeito apenas à extinção das espécies. Trata da impossibilidade de separar causas humanas de não humanas, naturais e artificiais. Ou seja: uma ecologia para além da natureza, perspectiva lançada pelo esquizoanalista Felix Guattari em sua atualíssima teoria das três ecologias: natural, humana e maquínica.”
“Talvez estejamos adentrando não no Antropoceno, mas no Eremoceno: a Era da Solidão (Wilson). Humano e solidão talvez venham a se tornar sinônimos daqui para a frente.
Saiba o motivo lendo Abismos da Leveza na íntegra!
Leitura imperdível, não é mesmo?
Visite nossa loja on-line e acompanhe também as novidades dos melhores pensadores contemporâneos conservadores em nosso Instagram!