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Georges Bernanos: fé, dúvida, sofrimento e esperança

Georges Bernanos, sem dúvida um dos mais notáveis escritores franceses do século 20, é amplamente reconhecido pela capacidade única de entrelaçar questões de fé, dúvida, sofrimento e esperança em suas obras. 

Ademais, seus textos são marcados por uma profunda exploração da condição humana, além de serem sempre permeados por uma inquietação filosófica e espiritual.

A Jornada de Georges Bernanos

Georges Bernanos, nascido em 20 de fevereiro de 1888 em Paris, viveu uma vida repleta de experiências que, em grande medida, moldaram sua visão de mundo e, consequentemente, sua obra literária. 

Além disso, ele é conhecido por suas reflexões profundas sobre a fé, a dúvida, o sofrimento e a esperança. Assim, Bernanos se destacou como um dos mais influentes escritores franceses do século 20. 

Sua jornada pessoal e artística foi marcada por momentos de grande turbulência e introspecção, que, por sua vez, se refletem em seus escritos.

Primeiros Anos e Influências de Georges Bernanos

Georges Bernanos cresceu em um ambiente católico, e essa educação religiosa teve um impacto duradouro em sua vida e obra.

Ele estudou em colégios jesuítas, onde começou a desenvolver seu interesse pela literatura e ao mesmo tempo pela espiritualidade.

A influência da fé católica é uma constante em seus trabalhos, de tal forma que permeia suas reflexões sobre a condição humana, o sofrimento e a esperança.

Serviço Militar e Primeira Guerra Mundial

A eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1914 foi, sem dúvida, um ponto de virada na vida de Bernanos

Durante esse período, ele serviu como soldado de trincheira, uma experiência que lhe trouxe uma compreensão profunda do sofrimento e da brutalidade da guerra.

Assim, esse período de sua vida alimentou seu ceticismo em relação ao progresso e à modernidade, temas que ele abordaria em obras futuras.

Ação Francesa e Desilusão de Georges Bernanos

Nos anos 1920, Bernanos se envolveu com a Ação Francesa, um movimento político de viés monarquista. Inicialmente ele apoiou o movimento, atraído por seu patriotismo e por suas críticas à República Francesa. 

No entanto, à medida que o tempo passou, Bernanos se desiludiu com o grupo, especialmente em face de seu antissemitismo e de seu apoio ao regime franquista na Espanha. 

Esse desencanto levou o escritor a se afastar da Ação Francesa e a criticá-la publicamente.

Crítica ao Totalitarismo e Exílio na Espanha

A Guerra Civil Espanhola (1936-1939) foi um evento crucial para Bernanos. Ele viveu em Maiorca, então sob controle das forças franquistas, e testemunhou as atrocidades cometidas pelo regime. 

Profundamente afetado pelo que viu, Bernanos escreveu Os Grandes Cemitérios sob a Lua, uma obra contundente que denunciava a violência e a hipocrisia do franquismo. 

Sua postura crítica lhe rendeu inimizades, mas, por outro lado, reforçou sua reputação como um escritor comprometido com a verdade e a justiça.

Exílio no Brasil

Em 1938, assim, Bernanos decidiu se autoexilar no Brasil, buscando um refúgio do crescente tumulto na Europa. Durante o período em que viveu aqui, ele se manteve ativo como escritor e observador crítico dos eventos mundiais. 

Além disso, no Brasil ele estabeleceu relações com intelectuais locais e interagiu com pessoas do povo, experiências que enriqueceram sua perspectiva e se refletiram em suas obras. 

Enquanto estava em Barbacena, Minas Gerais, ele se encontrou com o escritor austríaco Stefan Zweig, uma reunião imortalizada no livro Esse Paraíso da Tristeza.

Fé e Dúvida de Georges Bernanos

A fé e a dúvida são temas recorrentes em seus romances. De fato, em livros como Sob o Sol de Satã e Diário de um Pároco de Aldeia, Georges Bernanos explora a luta interna de seus personagens com a crença religiosa, frequentemente em busca de um sentido maior para suas existências.

Além disso, esses textos são conhecidos por seu realismo espiritual, que desafia o leitor a confrontar suas próprias convicções e incertezas.

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Sofrimento e Esperança

O sofrimento humano é certamente outro elemento central na obra de Bernanos. Suas histórias frequentemente retratam personagens que enfrentam crises profundas, tanto pessoais quanto existenciais. No entanto, mesmo em meio ao desespero, suas narrativas são permeadas por uma esperança persistente, uma busca incessante pela redenção e pela verdade.

Pluralidade de Georges Bernanos 

Ficções de Bernanos

Georges Bernanos construiu narrativas cheias de inquietações filosóficas, as quais caminham pelas complexidades da alma humana desafiando muitas convenções.

Aliás, histórias que em mais de um caso tiveram o impacto reproduzido na forma de filmes, pelas mãos de cineastas como Robert Bresson e Maurice Pialat.

Conheça suas ficções

Sob o Sol de Satã
Esta história apresenta uma jovem consumida pelo desespero e um padre perseguido pelo diabo. Desde seu romance inicial, com efeito, Bernanos aborda os dilemas da condição humana – a angústia e a fé, o riso e as lágrimas, a dor e a alegria, o bem e o mal. 

O livro é um clássico traduzido pelo poeta modernista Jorge de Lima, foi adaptado para o cinema em 1987 por Maurice Pialat, com Gérard Depardieu no papel principal.

Sob o Sol de Satã, de Georges Bernanos.

 

Diário de um Pároco de Aldeia
Em formato de confissão, Georges Bernanos narra a trajetória de um jovem padre católico na região francesa de Ambricourt. 

Ainda mais: ao criticar a transformação do cristianismo em uma rotina no mundo moderno, o autor ilustra a morte simbólica desse mundo, através do confronto entre conformidade e inconformidade, espiritualidade e praticidade. 

Este livro foi adaptado para o cinema em 1951 pelo cineasta francês Robert Bresson.

Diário de um Pároco de Aldeia, de Georges Bernanos.

 

Um Sonho Ruim
Um esquerdista mundano que se suicida em um quarto de hotel. Um grande escritor arruinado, escravo de sua própria fama. Uma mulher perdida e seu jovem amante, unidos pela droga e por um crime terrível. “Seres que perderam a razão de viver e que se agitam desesperadamente no vazio de suas pobres almas antes de morrer.” 

Esses são os personagens deste livro, que em 1934 retratava com uma cólera santa e profética um mundo desonrado, a cada dia mais semelhante ao nosso.

Um Sonho Ruim, de Georges Bernanos.

 

Nova História de Mouchette
Mouchette é uma menina tímida de quatorze anos que foge da escola e de uma família destruída pelo álcool, pela miséria e pela doença, assim como de uma aldeia de costumes ameaçadores. 

Em busca de liberdade, encontra um destino cruel que vai devorá-la entre o estupro e a mentira. Este romance de Bernanos foi adaptado para o cinema por Robert Bresson em 1967.

Nova História de Mouchette, de Georges Bernanos.

Senhor Ouine
Considerado por Georges Bernanos sua obra-prima, Senhor Ouine foi concluído durante seu exílio no Brasil. 

É o romance mais maduro do autor, admirado por figuras como Céline, Georges Simenon e Antonin Artaud, e apresenta um personagem descrito por Alain Bosquet como um dos poucos no século 20 comparáveis à grandeza de Don Juan e Fausto. 

Ouine é um professor aposentado que chega ao vilarejo de Fenouille, no norte da França, onde, inesperadamente, desperta suspeitas e fascínio no jovem Philippe, conhecido como Steeny. Um assassinato leva, em seguida, à ruptura extrema, colocando em questão a complexa teia de ressentimentos da cidade.

Narrada de forma única, a história não é apenas uma sequência de eventos, mas uma imersão na alma dos personagens, observados como se estivéssemos em um sonho… ou talvez em um pesadelo. 

Esta é a primeira tradução completa para o português, incluindo o texto integral que não foi preservado nas primeiras edições, acompanhada por um ensaio de Álvaro Lins e prefácio de Pierre-Robert Leclerq.

Senhor Ouine, de Georges Bernanos.

Histórias de personagens reais por Georges Bernanos

Com mestria incomparável, Georges Bernanos reimaginou a vida de personagens reais e as suas jornadas espirituais, capturando assim algo de essencial à experiência humana.

Conheça suas histórias de personagens reais

Diálogos das Carmelitas
Em 1794, no período da Revolução Francesa conhecido como Reino do Terror, dezesseis irmãs carmelitas do mosteiro de Compiègne foram condenadas à morte, acusadas de fanatismo, e executadas em praça pública. 

Aos pés da guilhotina, elas cantaram hinos religiosos, enquanto renovavam seus votos.  

Diálogos das Carmelitas, de Georges Bernanos.

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Joana, Relapsa e Santa
Em Joana, Relapsa e Santa, a exaltação de Joana d’Arc assume para Bernanos uma dupla reflexão sobre a Igreja – a Igreja dos clérigos e a Igreja dos santos. 

No caso de Joana d’Arc, a Igreja pura e simplesmente condenou uma santa. Que Igreja? Bernanos aponta o dedo para a Igreja institucional, à qual faz duras críticas. No entanto, não coloca a instituição de lado; ela, apesar de sofrível, é necessária.

Joana, Relapsa e Santa Georges Bernanos
Joana, Relapsa e Santa, de Georges Bernanos.

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São Domingos
A obra é uma leitura indispensável para os interessados na espiritualidade dominicana, para os apreciadores da literatura de Bernanos e para todos os que se fascinam pelo mistério da santidade.

Nela, o autor reflete com eloquência poética e com profundidade psicológica sobre a vida do fundador da Ordem dos Pregadores – tradição que viria a ter entre seus expoentes personagens como Santo Tomás de Aquino e Santa Catarina de Sena.

São Domingos, de Georges Bernanos.

Escrito num momento decisivo da obra bernanosiana, o livro é a mais bem realizada das suas tentativas de imaginar a subjetividade dos santos: de exprimir, por meio da criação artística, esse que é o exemplo máximo de uma obra divina, sobrenatural.

Crítica cultural e política, por Georges Bernanos

Como um observador agudo da sua época, Georges Bernanos usou de sua escrita afiada e provocativa para denunciar violências, covardias e hipocrisias.

Conheça as críticas de Bernanos

Os Grandes Cemitérios sob a Lua – Um testemunho de fé diante da guerra civil espanhola Publicado em 1938, este violento panfleto causou escândalo na França. Georges Bernanos oferece um “testemunho de combate”, que rapidamente assumiu uma atualidade extraordinária, por afinal se revelar uma profecia patente das grandes catástrofes do século 20. Além de tudo, ele o faz com uma eloquência acalorada, estrondosa e visionária.

Ainda que Georges Bernanos chame a atenção para o crime que se realiza sob seus olhos, em Maiorca, é provável que seja para ir além dele o tempo todo, ampliá-lo, estendê-lo a toda a Europa, aos ácidos que a corroem e que terminarão por dissolvê-la. Mais profundamente, ele escreve em nome de uma luta subterrânea cuja chave se encontra no segredo da consciência.

Com efeito, é com esse caráter que Bernanos permanece o mais atual, o mais jovem e o mais moderno de nossos contemporâneos.

Os Grandes Cemitérios Sob a Lua, de Georges Bernanos.

A França contra os Robôs

Sem concessões em seu antitotalitarismo, Bernanos antevê e se opõe a uma nova ameaça à liberdade, ascendente tanto no mundo capitalista como no mundo comunista – o império da técnica, do dinheiro, do controle mecânico.

O livro é uma eloquente defesa da liberdade humana diante do crescente predomínio da tecnologia. Além disso, esta edição conta com uma seção de textos inéditos, incluindo correspondências, entrevistas, discursos e anotações de Bernanos concomitantes à escrita do livro.

A França Contra os Robôs, de Georges Bernanos.

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Liberdade, para quê? 

Recordando a célebre frase de Lênin, o romancista reflete sobre o desinteresse cínico por esse bem de valor incalculável. Para o escritor, com efeito, a liberdade só foi colocada em perigo pelo totalitarismo porque a fé na liberdade enfraqueceu-se progressivamente.

Liberdade, para quê?, de Georges Bernanos.

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Carta aos Ingleses

As cartas aos ingleses são como um pedido de Bernanos para que estes cuidem de sua amada França até o dia em que afinal virá a redenção que livrará sua terra das manchas de seu passado.

Carta aos Ingleses, de Georges Bernanos.

Livros sobre Georges Bernanos

Durante o período do exílio de Georges Bernanos no Brasil, suas experiências pessoais se entrelaçaram com reflexões profundas sobre a condição humana e com o impacto da cultura local em sua obra.

Conheça os livros sobre Bernanos

Esse Paraíso da Tristeza 

A pacata Barbacena, no interior de Minas Gerais, foi palco, em 1942, do encontro entre dois gigantes da literatura: o austríaco Stefan Zweig e o francês Georges Bernanos.

Ambos escritores aparentados tanto nos temas como nas circunstâncias de vida – por isso, criadores de histórias sobre os tormentos do espírito humano e autoexilados no Brasil em fuga do totalitarismo –, não há como não ser incitado a imaginar os detalhes do diálogo ocorrido entre os dois. A realização primorosa de tal exercício é esta peça teatral, Esse Paraíso da Tristeza.

Esse Paraíso da Tristeza, de Sébastien Lapaque.
Sob o Sol do Exílio – Georges Bernanos no Brasil 

Georges Bernanos, o “Dostoiévski francês”, viveu no Brasil no período de 1938 a 1945. Neste livro, ao mesmo tempo viagem investigativa e exercício de admiração, Sébastien Lapaque em primeiro lugar rastreia as relações de Bernanos com intelectuais brasileiros e com o homem do povo; em segundo lugar, fala dos sonhos de uma “Nova França” em território latino-americano e do sofrimento com os rumos da Europa; e em terceiro lugar trata da presença brasileira nas obras de Bernanos aqui redigidas. Uma obra generosa com o Brasil e repleta de esperança cristã.

Sob o Sol do Exílio – Georges Bernanos no Brasil (1938-1945)

Conclusão

Georges Bernanos não é apenas um autor; ele é um guia através dos labirintos da fé, da dúvida, do sofrimento e da esperança. 

É por isso que sua obra ressoa através das décadas, oferecendo insights valiosos sobre a condição humana. 

Ao explorar seus escritos, o leitor não apenas conhece uma figura literária de importância histórica, mas também embarca em uma jornada de autodescoberta e reflexão profunda. 

Portanto, não perca a oportunidade de conhecer Georges Bernanos, um dos maiores escritores do século 20.

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