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Desenvolvimento e Cultura: leia trechos de Mario Vieira de Mello

Um dos mais recentes lançamentos de nosso catálogo é o primeiro volume da Coleção Mario Vieira de Mello.

Desenvolvimento e Cultura: O Problema do Estetismo no Brasil trata-se de um livro do diplomata brasileiro Mario Vieira de Mello, uma das personalidades mais importantes do pensamento crítico ao estetismo da cultura nacional.

“O desenvolvimentista encontra-se numa situação confortável, com o prestígio da palavra ao seu lado e sem a necessidade de apresentar uma série de esclarecimentos que os outros, os que não pensam como ele, são obrigados a prestar”, escreve Vieira de Mello.

Um dos mais recentes lançamentos do catálogo da É Realizações é o primeiro volume da Coleção Mario Vieira de Mello, que merece ser acompanhada desde já.

A obra conta com prefácio inédito de Martim Vasques da Cunha, além de prefácios antigos escritos por:

  • Filipe Fontes
  • Paulo Roberto Margutti Pinto
  • Kaio Felipe
  • Antonio Paim
  • Cândido Mendes

Neste trabalho, Mario Vieira de Mello reflete acerca do problema do estetismo no Brasil; algo que, na visão de Martim Vasquez da Cunha, é uma reflexão que possui “longa tradição literária no país”, cuja finalidade é a “tentativa de entender o que criou este enigma chamado ‘identidade nacional’”.

Segundo o prefaciador, Mario Vieira de Mello corre na contramão de outros intelectuais de sua época, por exemplo:

  • Oliveira Lima
  • Oliveira Vianna
  • Fernando de Azevedo
  • Capistrano de Abreu
  • Gilberto Freyre
  • Sérgio Buarque de Holanda

Confira dois trechos interessantes do prefácio escrito por Vasques da Cunha:

“Qual era essa trilha intelectual, especialmente insólita para quem fazia parte da intelligentsia tupiniquim? Tratava-se do diálogo entre três grandes autores da filosofia e da literatura mundiais, todos surgidos no final do século XIX: Søren Kierkegaard, Friedrich Nietzsche e Fiódor Dostoiévski. Segundo Vieira de Mello, o que os unia era a reflexão angustiante a respeito da impotência do Bem Supremo nas manifestações da nossa vida cotidiana. Em um amplo panorama histórico que vai do Renascimento até o Romantismo francês, passando pela Reforma Protestante, o brasileiro argumenta que o nosso país foi vítima de uma sensibilidade estetista, que não leva a existência como algo autêntico e a qual, por isso mesmo, abandonou qualquer espécie de atitude ética em sua cultura. Esse desprezo pelo Bem, nas palavras do embaixador, nos levou a manifestações estéreis, como a literatura de Machado de Assis; à Semana de Arte Moderna; às interpretações sociológicas de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda; e até mesmo à conversão religiosa-política de um Tristão de Athayde (alcunha pública do crítico Alceu Amoroso Lima), que influenciou católicos conservadores célebres como Gustavo Corção, mas depois rumou para o progressismo militante na década de 1960.”

Continua Martim Vasques da Cunha:

“Os ataques feitos por Vieira de Mello contra esses medalhões não são, sob hipótese nenhuma, gratuitos. São extremamente bem fundamentados – e todos os seus principais argumentos giram ao redor do tema do ‘abandono do Bem’. Para ele, a recuperação de uma virtude ética só aconteceria se os principais representantes da cultura brasileira soubessem ler com atenção os escritos de Kierkegaard, Nietzsche e Dostoiévski.”

Leia trechos selecionados de Desenvolvimento e Cultura: O Problema do Estetismo no Brasil, livro de Mario Vieira de Mello.

Trechos de Desenvolvimento e Cultura

“Podemos assim voltar à nossa perplexidade inicial. Por que existe hoje no Brasil uma sensação tão aguda de que vivemos um período de grande responsabilidade, de que estamos nos aproximando de uma grande encruzilhada e de que a hora das grandes decisões vai soar? Naturalmente esses ingredientes se encontram sempre em grau maior ou menor em todos os climas políticos. Mas o que caracteriza de maneira particular o atual momento brasileiro é que vários setores da opinião parecem se ter popularizado em torno da ideia do desenvolvimento, ou antes do subdesenvolvimento (de que padece o país), a tal ponto que não se ser ‘desenvolvimentista’ corre o risco, hoje em dia, de ser considerado como um crime de lesa-pátria.”

“Dostoiévski é um autor que goza de imenso prestígio e popularidade. O seu gênio é reconhecido nos quatro cantos do mundo civilizado e o seu impacto sobre o espírito menos preparado assume invariavelmente o aspecto de uma experiência extraordinária. A que se deve esse irresistível poder de sedução? Seus comentadores utilizam imagens e expressões, algumas tiradas da obra de Dostoiévski, outras forjadas por eles próprios, que contribuem para aumentar ainda mais a intensidade da atmosfera de excitação que parece pairar sempre sobre o mundo do grande romancista russo. ‘O homem subterrâneo’, a ‘liberdade do mal’, a ‘experiência do irracional’, etc., etc., são algumas imagens e expressões que nos introduzem num mundo de ideias ao qual não estamos absolutamente habituados. Se o nosso interesse tiver sido estimulado, se julgarmos que tais imagens e expressões merecem ser levadas a sério e não ser tomadas unicamente como uma indicação dos diferentes ingredientes e artifícios a que Dostoiévski, como artista, deveria forçosamente recorrer, a fim de criar a intensidade de sua atmosfera romanesca se o nosso interesse nos fizer refletir sobre esses ingredientes, dizíamos – a situação de Dostoiévski, como o pensador, nos parecerá extraordinariamente curiosa.”

“Até então a ideia do Mal havia consistido unicamente numa privação. Agora, depois de sua associação com a realidade estética, ela se revestia de uma autoridade ontológica e podia afrontar a ideia do Bem num plano de perfeita igualdade. Antes o homem pecava, praticava o Mal por um instinto de autodestruição, atraído pelo Nada. Agora, ao praticar o Mal, o homem era atraído por algo real, algo que possuía uma enorme força de atração e que podia, por conseguinte, disputar com o Bem num grau de extrema violência a colheita das almas a serem conquistadas.”

Que tal ler na íntegra Desenvolvimento e Cultura: O Problema do Estetismo no Brasil, de Mario Vieira de Mello?

Garanta já seu exemplar!

Desenvolvimento e Cultura
Desenvolvimento e Cultura, de Mario Vieira de Mello.

Quer saber mais sobre a vida desse renomado autor? Leia o perfil: Quem foi Mario Vieira de Mello? Conheça mais sobre o pensador!

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