Evasivas Admiráveis, livro de Theodore Dalrymple, trata dos efeitos prejudiciais dos conceitos psicológicos sobre o caráter humano e a sociedade. A obra agrega ao nosso catálogo mais uma interessante análise sobre o poder destrutivo das ideias perniciosas.
No prefácio à edição brasileira, Dalrymple nomeia alguns títulos de autoajuda que viu em uma livraria, durante uma viagem à Austrália, sobre os quais comenta:
“O que esses livros tinham em comum era que havia uma solução técnica para os problemas da vida e que a solução fora descoberta pela ciência da psicologia. Isso é uma ilusão perpetuada depois de um século de muito esforço. Modas como a psicanálise e o behaviorismo foram passageiras; atualmente estamos diante da onda da neurociência. Mas o problema de como viver, por motivos metafísicos e outros, não é suscetível a uma resposta técnica, e a crença de que é só impede o avanço do conhecimento.”
Desde seu surgimento, a psiquiatria já foi considerada – inclusive pelos próprios psiquiatras – ineficaz, corrupta, destrutiva e até sádica.
Para Dalrymple, ex-psiquiatra de penitenciárias inglesas, a psicologia pode minar a moralidade quando fornece ao indivíduo novo arsenal linguístico, levando-o a se eximir de responsabilidades.
Entretanto, em Evasivas Admiráveis, não deixa de avaliar o sucesso de muitas formas de tratamento psicológico, como:
- Análise freudiana,
- Behaviorismo,
- Terapia cognitiva comportamental.
Entre todos os males abordados no livro, para Theodore Dalrymple, o maior de todos é a ideia de que podemos remodelar a natureza humana.
Em outras palavras, é a crença de que o indivíduo possa transcender as limitações da própria personalidade, assim como evitar a necessidade de assumir a responsabilidade pelas próprias ações.
Outro assunto abordado, e muito em voga atualmente, é a mania da felicidade. De acordo com Dalrymple, a palavra “infeliz” foi praticamente banida da linguagem.
A consequência principal disso é o hábito de nos medicarmos para combater tudo o que sentimos de ruim, inclusive descontentamentos naturais, como a melancolia do inverno, ou mesmo os traços de personalidade arraigados, como acontece com tímidos e esquivos.
Posto tudo isso, como os psiquiátricos podem ser capazes de distinguir com eficácia o sofrimento real da infelicidade leve e natural?
E sabe quem sofre mais? Os que realmente precisam de ajuda: portadores de graves perturbações, esquizofrênicos, catatônicos, dementes.
Leitura instigante a cada página, Evasivas Admiráveis dirige-se a todos aqueles que não abrem mão de uma reflexão inteligente e original.
Por fim, salientamos um trecho estimulante: “A psicologia não é uma chave do autoconhecimento, mas sim uma barreira cultural para acessar essa compreensão; acredito que jamais conseguiremos chegar ao âmago do mistério. Não lamento esse fato, fico até contente”.
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