Ivan Illich: o subversivo

O padre católico Ivan Illich, um dos mais emblemáticos defensores das causas dos pobres, consta na lista de Robert Inchausti como uma figura “subversiva” e “ortodoxa”. A galeria que reúne outros 19 autores é apresentada no envolvente livro Ortodoxia Subversiva.

Com tradução de André de Leones, o título pertence à Coleção Abertura Cultural. O objetivo de Inchausti é propor uma reflexão sobre a contribuição de grandes nomes da filosofia e da literatura para a vanguarda do pensamento contemporâneo.

Leia dois trechos!

Trechos sobre Ivan Illich

“Embora Illich insistisse que suas visões eram inteiramente ortodoxas e fiéis aos ensinamentos da igreja, ele abandonou o sacerdócio um ano depois. Ele continuou a escrever sobre os efeitos do desenvolvimento e argumentou que a cultura contemporânea, incluindo o próprio cristianismo, estava sendo corrompida pela profissionalização da virtude. A ética do profissionalismo intrínseca à emergente economia global de serviços tinha o efeito paradoxal de transformar o mandamento espiritual de amar ao próximo em uma tentativa coletiva de eliminar sistematicamente o risco e a contingência dos assuntos humanos.”

“Illich forçou a esquerda e a direita a questionarem os efeitos que seus próprios privilégios profissionais tinham sobre a qualidade de seu pensamento. Obviamente, o racionalismo iluminista não havia produzido as utopias prometidas: a perversidade e a violência humanas estavam se mostrando bestas bem mais intratáveis do que qualquer um imaginara. Mas Illich levou suas análises ainda mais a fundo na história do que McLuhan ou Ellul, de volta às transformações somáticas da existência perceptível na era da agricultura, examinando como as nossas palavras mudaram e como a nossa consciência refeita permitiu que suportássemos o sofrimento e a pobreza de tantas pessoas.”

Que tal ler a análise na íntegra?

Conheça agora um pouco mais da trajetória do pensador austríaco!

Quem foi Ivan Illich?

Ivan Illich foi um sociólogo, teólogo e pensador dos mais diversos assuntos. Nasceu em Viena no dia 4 de setembro de 1926 e lá viveu com seu avô até 1941. Devido à ascendência judia por parte de mãe, fugiu do regime nazista e mudou-se para a Itália, onde estudou Ciências nas Universidades de Florença e de Roma.

Na Universidade Gregoriana, em Roma, Ivan Illich estudou Filosofia e Teologia. Já na Universidade de Salzburgo concluiu o doutorado em Direito, enquanto o pós-doutorado, sobre o macro e microcosmos, realizou na Universidade de Princeton.

Fluente em diversas línguas, na década de 1950, ainda em Roma, entrou para o seminário e ordenou-se sacerdote. Quando se mudou para Nova York, para trabalhar como auxiliar do Cardeal Spellman, tornou-se intérprete e iniciou contatos com a comunidade hispano-americana, com quem posteriormente teve uma profunda conexão. Nos anos 1960 chegou a mudar-se para o México.

Ainda nos Estados Unidos, em Manhattan, trabalhou com atendimento de imigrantes porto-riquenhos, auxiliando na luta por seus direitos. Depois foi para Porto Rico, onde se tornou vice-diretor da Universidade Católica de Ponce em 1956.

De volta à Nova York, na jesuíta Universidade de Fordham fundou o Centro de Formação Intercultural. Atuava também como pesquisador e educador na área de sociologia. Nesse centro, os missionários norte-americanos entravam em contato com a cultura e o idioma dos países latinos. Outro centro criado em conjunto por Ivan Illich foi em Cuernavaca, no México: o Centro Intercultural de Documentação.

Ao longo de sua trajetória, Ivan Illich levantou questões acerca do papel da Igreja Católica, assim como o das demais instituições, o que acabou levando a uma repressão por parte dela ao Centro Intercultural de Documentação – e posteriormente ao seu desligamento do sacerdócio, em 1967. Quase dez anos depois, o centro teve suas portas fechadas, devido, em grande parte, ao perigo que os frequentadores acabavam se expondo diante do regime, correndo o risco de serem presos ou perseguidos.

A partir de 1980, Ivan Illich atuou como professor em diversas áreas, vivendo entre Estados Unidos, México e Alemanha. Falaceu em 2 de dezembro de 2002, aos 76 anos, em Bremmen, Alemanha, em decorrência de um câncer.