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Mulheres que Matam: leia trechos do romance de Alberto Barrera Tyszka

A obra do escritor venezuelano ainda presenteia com posfácio de João Cezar de Castro Rocha.

Em Mulheres que Matam, o escritor Alberto Barrera Tyszka escolhe como epígrafe: “Mas onde está a minha casa e onde a minha lucidez?”, verso da poeta russa Anna Akhmátova.

O verso joga luz na história de Magaly Jiménez, ou melhor, de seu filho Sebastián, que descobre que perdeu a mãe em um suposto suicídio.

Desconfiado da possibilidade de a mãe ter se matado, Sebastián decide ir em busca de pistas que possam revelar os motivos de tal ato.

Com tradução de Marco Catalão, o livro de literatura do escritor venezuelano possui 248 páginas e é uma excelente opção para leitores mais exigentes. A obra ainda presenteia com posfácio de João Cezar de Castro Rocha.

Ao todo, são 19 capítulos envolventes, instigantes, bem escritos e de originalidade singular. Certamente, vale a pena acompanhar a aventura de Sebastián — e Elisa!

Sim, Elisa, uma moça que já vinha reunindo documentos acerca de suicídios femininos e que se torna a grande parceira de Sebastián nesse enredo de mistério e suspense.

Confira trechos do romance Mulheres que Matam!

Capítulo 1: Algumas Palavras na Água

“Ela estava nua, de barriga para cima. Seus olhos estavam abertos. Sem brilho. Como duas pedras em um copo de água. Quando a encontraram, estava mergulhada na banheira há mais de oito horas.”

“As mulheres são diferentes em tudo. Até na hora de morrer.”

Capítulo 2: Os Suicidas Sempre Avisam

“Em outra época, talvez, um suicídio teria ocupado partes das páginas de notícia de um jornal. Mas naqueles dias, já nem havia jornais. Os que restavam eram dominados pelo Alto Comando.”

“Quem era o Alto Comando? Ninguém parecia saber. O que era? Era uma voz acompanhada por muitos homens com armas. Onde estava? Em toda parte.”

Capítulo 3 de Mulheres Que Matam: Ouvir os Mortos

“— Meu nome é Elisa Naranjo. Você não me conhece.

Sebastián se sentiu um pouco estúpido: de cueca, descalço, recém-acordado e com a boca seca, segurando o telefone na mão esquerda para falar com uma estranha. Houve outro breve silêncio. Até que Sebastián disse oi.”

“Elisa era completamente diferente de como ele a havia imaginado. Era magra, não muito alta; tinha cabelo quase castanho, pele queimada e seios pequenos. Mas havia algo em seu olhar, em sua boca, em sua maneira de falar, que desde o início lhe pareceu perturbador. Ela o levou a uma cafeteria menor, quase escondida no canto de uma galeria comercial parcialmente abandonada. Assim que eles se sentaram, ela começou a falar do seu projeto sobre mulheres suicidas.”

Capítulo 4: Teoria e Prática do Desespero

“Magaly Jiménez começou a fazer terapia quando tinha cinquenta anos. Nunca tinha sentido antes que precisava desesperadamente falar. Falar sobre si mesma, falar sem ter de ser cautelosa, sem se conter. Falar só por falar e falar para pedir ajuda. Às vezes é a mesma coisa.”

“Elisa não gostava de falar sobre poliamor. Achava o termo um pouco piegas, quase formal, sentimentalmente correto. Além disso, sentia que não era suficiente para definir com precisão o pacto que ela tinha com o namorado. O amor não era o ponto. Não se tratava de partilhar ou democratizar afetos. Na verdade, o acordo mútuo tinha a ver com sexo.”

Capítulo 5: Vestidos e Saias

“O desejo — sua natureza, seu poder — atingia sua melhor forma naquele instante, na possibilidade de vê-la e não saber o que fazer; na maravilha brutal de ficar paralisado diante dela. Aquela foi sua primeira ideia de êxtase.”

Capítulo 6: As Loucas

“As respostas de Sebastián eram quase sempre iguais: pouca informação somada a fórmulas clássicas de afeto fraterno. Num e-mail escrito em junho, Magaly disse que estava pensando em entrar num clube. Sebastián não se lembrava de nada, mas, na época, sua mãe lhe disse que, graças a Anahí Rosales, uma paciente que ela conhecia há anos, havia entrado em contato com um clube de leitura e estava pensando em participar dele. Pelo menos para experimentar, sua mãe escreveu. Para fazer alguma coisa diferente. Para arejar. Aqueles eram os motivos dela.”

Capítulo 7 de Mulheres Que Matam: Sobre as Formas de Organizar a Dor

“Éramos umas dez, mas pouco a pouco algumas foram saindo. As pessoas dizem que leem, mas não é verdade — afirmou, sorrindo.  —  As pessoas leem notícias, fofocas, mensagens de texto, qualquer coisa, desde que seja curto. Quase ninguém mais lê livros. Acham que é excessivo. Tem gente que vê um livro já se cansa. Isso também aconteceu com o clube.”

Capítulo 8: Os Livros te Salvam (e Vice-versa)

“Às vezes, as desgraças se repetem de forma automática. Assim, deixam de ser desgraças. A repetição as banaliza; domestica o assombro e transforma a dor num hábito. A reprodução faz com que a realidade perca a importância, e seja rapidamente catalogada como um lugar comum. A suposta falta de originalidade, em vez de aumentar uma desgraça, minimiza-a.”

Capítulo 9: Sobre a Importância das Cicatrizes

“— Como se a natureza feminina — Leonor leu algumas linhas na página vinte e três — se nutrisse ou dependesse da capacidade de renunciar a ser ela mesma. A menina obediente, a adolescente virgem, a esposa fiel, a mãe abnegada… Nos ensinam que o amor é um sacrifício, que só podemos nos realizar nos entregando completamente, que só podemos ser plenamente mulheres se desaparecermos.”

Capítulo 10 de Mulheres Que Matam: O chuveiro de Heráclito

“Sebastián havia tentado de tudo. Tinha até se encontrado com a antiga terapeuta de sua mãe, tentando descobrir se ela tinha alguma ideia, se sabia alguma coisa sobre o clube de leitura. Infelizmente, ela não sabia de nada. Disse que pouco depois de entrar no clube, Magaly tinha deixado de ir às sessões semanais com ela. Nunca mais voltou a vê-la.”

Capítulo 11: Violência na Cama

“Alma Briceño também propunha o olfato como um elemento essencial no desejo feminino. Trata-se de uma dimensão que não está presente da mesma forma no universo masculino. Não tem a ver apenas com os corpos. Tem a ver com tudo. Os homens precisam entender que às vezes o nariz pode ser tão importante quanto o clitóris, ela dizia numa das frases em destaque no meio da página.”

Capítulo 12: O Passado Parado

“Sebastián sentiu que estava em um labirinto, que nada ia bem para ele, que simplesmente nada ia. Considerou que as mulheres preferem a sutileza, mesmo que seja cruel.”

Capítulo 13 de Mulheres Que Matam: Trabalhos Femininos: Limpar os Restos

“Existem homicídios bons? Existem homicídios legítimos, mesmo que não sejam em legítima defesa? Quem decide isso? Os assassinos?”

Capítulo 14: Medo de Baratas

“Na maioria das mulheres, ou pelo menos numa grande porcentagem delas, as baratas conseguem provocar um pavor incontrolável. É uma reação automática que, em segundos, vai da observação do inseto ao pânico desenfreado. Às vezes, nem sequer é necessário ver o inseto, basta intuí-lo para que se ative a histeria. A simples suspeita de que uma barata está por perto pode fazer com que as mulheres se transformem em ginastas da em saltos triplos no mar algumas até conseguem voar outra chegar uma correr em velocidades inimagináveis elas agem como se a barata fosse um animal enorme e perigoso, um assassino com seis pistolas, um serial killer empunhando uma motosserra ligada. Mas se trata de um inseto. De um diminuto e evasivo inseto, tão aterrorizado e tão ansioso para fugir quanto elas. As baratas não atacam. Nem sequer ameaçam. Também não se defendem. Seu único perigo não está nelas, mas no medo de suas vítimas. Sua mera presença despoja seus inimigos de qualquer lógica, torna- os muito vulneráveis.”

Capítulo 15 de Mulheres Que Matam: Maneiras de Mover as Sombras

“Foi estuprada várias vezes. Não quis fazer a conta, embora ache que tenham sido seis ou sete. Sempre em noites diferentes. Supõe que eram oficiais ou soldados, nunca quis vê-los. Ou simplesmente sua memória apagou aqueles rostos. Só se lembra da oficial. Ela estava sempre lá. E sentia prazer com aquilo. Pior: era ela quem organizava e dirigia tudo naqueles momentos.”

Capítulo 16: Paciência nas Escadas

“Sebastián começou a se sentar nas escadas no oitavo andar e esperar por horas a fio. Às vezes levava o livro de Alma Briceño e tentava lê-lo. Mas na maior parte do tempo pensava em Elisa. O que lhe estava acontecendo em relação a ela não lhe ocorrera antes com nenhuma outra mulher. Aquilo o deixava ainda mais irritado.”

Capítulo 17 de Mulheres Que Matam: Peixes e Seringas

“Nenhuma delas perguntou o que exatamente tinha acontecido no banheiro da fábrica. Nem Teresa deu qualquer explicação. A única coisa que a Juliana aquela lembrança era o som do tiro.”

Capítulo 18: Tantas Vezes a Morte

“Sebastián pensou que tinha um abismo dentro de si. Sentiu vertigem. Voltou a se sentar. Inés fingiu que não viu nada, que não estava atenta às suas reações. Contou que, depois daquela ocasião, elas conversavam com frequência sobre o assunto, que mesmo quando o clube se dissolveu elas continuaram a se ver e ocasionalmente se visitavam e conversavam.”

Capítulo 19 de Mulheres Que Matam: Um Livro no Ar

“Naquela noite, Sebastián ficou meio louco. Destruiu o armário de sua mãe, tirou todas as roupas, jogou os vestidos na cama, atirou as camisas e as calças no chão. Elisa tentou contê-lo, mas foi inútil. Estava transtornado estava vivendo seu protesto, seu luto.”

Leitura imperdível, não é mesmo?

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Mulheres Que Matam
Mulheres Que Matam, de Alberto Barrera Tyszka.

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