O Impasse de 1967, livro de Micah Goodman, integra a Coleção Oriente Médio, exclusiva da É Realizações, é um dos títulos mais interessantes de nosso catálogo.
O autor repassa a Guerra dos Seis Dias e apresenta argumentos – tanto da esquerda quanto da direita – sobre os conflitos que envolvem árabes e judeus. Seu intuito é ambicioso: chegar a uma solução quanto ao problema da polarização.
Com tradução de Debora Fleck, o livro O Impasse de 1967 tem como subtítulo A esquerda e a direita em Israel e o legado da Guerra dos Seis Dias. Sem dúvida, uma leitura imperdível, pelo tema e, sobretudo, pelo texto instigante.
O que Micah Goodman realiza nessa obra é mais do que apresentar resultados de pesquisas realizadas por cerca de vinte e cinco anos, ele apresenta o assunto de forma didática e bastante ágil.
Em O Impasse de 1967, o leitor compreende conceitos como: identidade política, identificação intelectual, intolerância política e religiosa, sionismo, conflito árabe-israelense, antissemitismo, entre outros.
Como escreve o próprio autor, “O Impasse de 1967 não é sobre o conflito árabe-israelense em si; é, acima de tudo, sobre o debate que há dentro de Israel acerca do assunto.”
Micah Goodman realiza um verdadeiro “mergulho no debate político do país e no âmago da sociedade israelense”. O livro está dividido em três partes:
- Crise das Ideologias Políticas
- Crise das Ideias Políticas
- A Esfera do Discurso Pragmático
Confira trechos de cada uma das partes de O Impasse de 1967!
O Impasse de 1967 – Parte I: Crise das Ideologias Políticas
São tratadas as guinadas ideológicas da esquerda, da direita, do messianismo e do sionismo religioso. Confira!
“Quanto mais de direita, mais religiosos os israelenses são; e quanto mais religiosos, mais de direita eles são. Claro que se trata de uma generalização nem sempre verdadeira, mas hoje em Israel existe quase uma correlação direta entre ser de direita e ser religioso.”
“Nos anos que se seguiram à Guerra dos Seis Dias, a natureza do sionismo religioso se transformou, bem como a natureza da direita secular. O sionismo religioso se moveu mais para a direita durante a década de 1970; em paralelo, a direita secular começou a se enfraquecer, até se ver incorporada pelo sionismo religioso. Foi assim que nasceu uma das forças ideológicas mais influentes na história de Israel: a direita religiosa.”
“Ze’ev Jabotinsky era um pessimista. Para onde quer que olhasse, só enxergava perigosas ameaças à espreita do povo judeu. Ele alertou para a traição dos ingleses, o ataque dos árabes e a iminente aniquilação dos judeus da Europa, catástrofe que de fato previu. Da forma mais dolorosa, a história provou que essas visões se tornam realidade. Jabotinsky era o homem que quase sempre estava certo.”
“A desconfiança de Jabotinsky em relação aos ingleses, aos alemães e aos árabes não era fortuita. Pautava-se numa visão de mundo mais ampla, de ceticismo diante dos seres humanos em geral. Para ele, os indivíduos escondiam impulsos violentos que não poderiam ser eliminados por meros arranjos sociais. Por conta disso, era preciso preservar a opção da guerra, mesmo em tempos de paz.”
Parte II: Crise das Ideias Políticas
Micah Goodman expõe o que acredita estar certo em ambos os lados – da direita e da esquerda –, além de apresentar questões demográficas, de segurança e os dilemas morais e judaicos importantes para entender a questão. Acompanhe!
“Os argumentos políticos em Israel entraram em crise, seguindo o mesmo que aconteceu às ideologias. Contudo, trata-se de uma crise diferente. A crise ideológica se estabeleceu a partir do momento em que essas ideologias não conseguiram se adequar à realidade. Os argumentos políticos, no entanto, continuam convincentes. A realidade não os desautorizou — ela os justificou, isso sim. Com o tempo, quase todos os argumentos políticos que hoje convivem dentro de Israel se provaram corretos. A direita tem razão, assim como a esquerda. Os argumentos de ambos os lados são válidos. É justamente nisso que reside a crise.”
“A existência de Israel é ameaçada por sua localização. Trata-se de uma democracia liberal, cercada de forças culturais antiocidentais que enxergam sua presença no Oriente Médio como uma invasão ocidental em território árabe. Israel é também um Estado judeu cercado de forças antissemitas que enxergam qualquer soberania não muçulmana dentro do domínio do Islã como uma ofensa contra Deus. Essas duas formas imponentes — a que deseja expulsar os invasores ocidentais e a outra, que deseja purificar o reinado do Islã — se fundiram, formando um poderoso eixo de resistência contra a existência de Israel.”
“Para concluir, eu gostaria de recapitular os dois argumentos principais: do ponto de vista da segurança, Israel não pode se retirar dos territórios; mas do ponto de vista demográfico, não pode permanecer neles. Se Israel se retira, sua área se reduz a proporções indefensáveis; mas se permanece, a maioria judaica fica ameaçada. As duas posições contrárias criam um paradoxo perturbador: Israel não pode se retirar desses territórios, mas ao mesmo tempo precisa se retirar deles.”
O Impasse de 1967 – Parte III: A Esfera do Discurso Pragmática
Por último, o pensador tece uma distinção entre pragmatismo e realismo, expondo o paradoxo em que se encontra Israel. Leia!
“Para muitos dos fundadores de Israel, o propósito do sionismo era promover o socialismo. Eles acreditavam que o futuro Estado não só libertaria os judeus do jugo de não judeus como também libertaria os trabalhadores do jugo de capitalistas.”
“No fim da década de 1930, quando apareceu pela primeira vez na agenda do movimento sionista, a ideia de dividir a terra entre judeus e árabes encontrou muita resistência. Um de seus opositores mais contundentes foi Menachem Ussishkin, que fez a seguinte pergunta: ‘Uma nação tem o direito de renunciar à sua herança?’. E ele mesmo respondeu, simples e direto: ‘Não faremos isso’.”
“A crença dominante é que se não fossem as grandes ideias e ideologias de seus fundadores, o Estado de Israel não teria nascido. Mas na verdade é justamente o contrário: se os pais-fundadores de Israel tivessem se agarrado tenazmente a suas ideologias, o Estado nunca teria sido criado.”
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