O curioso romance do dramaturgo romeno é uma leitura bem-humorada sobre a experiência incontrolável, imprevisível e extenuante que todo escritor – ou aspirante a um – enfrenta quando decide escrever um livro.
A história acontece em 2025 e tem como um dos principais personagens Guy Courtois, o curioso indivíduo que se gaba de ter vendido as primeiras frases de alguns livros de sumidades como Albert Camus, Franz Kafka, Herman Melville e Thomas Mann.
Sabe o célebre início de O Estrangeiro, de Camus? “Hoje, mãe morreu.”
É desta forma que Guy Courtois se enaltece de tê-lo dado ao argelino:
“Não, lhe asseguro que Albert Camus nunca teria começado o romance O Estrangeiro com essa frase se não a tivéssemos fornecido nós. Aliás, nem sequer teria escrito esse romance num estilo tão simples, tão linear, tão confessional, visando a maior credibilidade, se não lhe tivéssemos oferecido, nós, o ponto de partida, se não tivéssemos aberto, nós, esta miraculosa portinhola.”
Agora, uma coisa que Guy Courtois fala é verdade: a primeira frase de um livro nunca é inocente.
“As primeiras palavras de um romance são como o grito de um marinheiro que perscruta o oceano de proa do navio e a dada altura anuncia que a terra está à vista… Sei que lhe podem parecer um pouco patéticas, até grotescas, essas asserções. Se bem que, estando desperto, verá como são justas… um bom início de romance ou é um clique metafísico ou não é nada.”
Neste título, Visniec brinca com gêneros literários. Durante a leitura, é possível encontrar conto, poema, carta. São 72 capítulos nessa via de várias mãos, sem direção prévia.
Há também um momento “panfletário” em O Negociante de Inícios de Romance.
Porque é fundador do Clube Literário da Segunda-feira, na Romênia, Matéi Visniec acaba dedicando um capítulo inteiro para tratar da literatura como um instrumento de resistência a todo tipo de postura totalitária.
Como o terreno literário deste romance não é linear, isso pode incomodar alguns leitores. Todavia, quem insiste na leitura vive imenso deleite. É como desvendar um enigma!
O livro também propõe involuntariamente – ou não? – algumas discussões sobre a escrita. Por exemplo,
- Como estabelecer um fluxo de consciência coerente na hora de escrever?
- É sempre tênue a linha entre realidade e ficção?
- Por que uma página em branco é capaz de gerar tanta angústia?
Será possível fazer um paralelo com a vida real? Essa que às vezes reserva para nós apenas inúmeros inícios, mas nem sempre uma história completa?
A leitura de O Negociante de Inícios de Romance incomoda, levanta perguntas, faz pensar, incita a desistência, mas terminá-la é justamente compreender os muitos inícios da vida real.
Talvez você não saiba, mas a É Realizações é uma das maiores entusiastas do trabalho de Matéi Visniec, tendo já disponibilizado mais de 20 peças teatrais para o leitor brasileiro. Todas elas foram traduzidas do francês e apenas O Negociante de Inícios de Romance teve a tradução direta do romeno.
E, então, encara o desafio?
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