Bons livros, quem é capaz de resistir a eles? Verdadeiras joias, tanto para o intelecto quanto para a alma, não podem faltar ao nosso lado. Uma excelente companhia, por exemplo, é Ortodoxia Subversiva, obra de Robert Inchausti, que trata da contribuição de 20 pensadores cristãos para vanguarda do pensamento.
Com tradução de André de Leones, a publicação faz parte da Coleção Abertura Cultural, uma de nossas coleções mais originais e instigantes. Os autores tratados por Inchausti são muito diferentes em estilo, abordagem e época, mas têm em comum alguns pontos:
- Desafiaram as narrativas dominantes de suas épocas.
- Inovaram em seus respectivos campos.
- Foram críticos originais.
- Estabelecerem conexões entre fé e realidade.
Que tal conferir tudo isso na íntegra?
Trechos de Ortodoxia Subversiva sobre Walker Percy
“Para Percy, nosso uso dos símbolos não é um evento diádico estímulo-resposta, como entende a maioria dos semióticos e teóricos da linguagem. O comércio de símbolos não pode ser explicado pela teoria behaviorista ou como uma sucessão de estados de energia.”
“Por que as teorias antropológicas e semióticas correntes fracassam em descrever adequadamente a natureza do homem? Simplesmente porque, embora consigam relatar adequadamente ações de causa e efeito, respostas a estímulos e comportamentos de sobrevivência e instintuais, elas não explicam o que é um símbolo, pois um símbolo não é uma parte de um evento diádico; ele só existe enquanto parte de uma relação em três vias, na qual se nomeia uma experiência e ela é, assim, compartilhada e intensificada. Em outras palavras, símbolos não são coisas e não são sensações, mas algo mais.”
“Para Percy, a incapacidade de nomear é a verdadeira causa da ansiedade humana. Essa ansiedade pode abranger desde ‘um ligeiro desconforto até o terror em face do mistério’. O ato de comunicar fornece uma cura existencial, pois permite ao ‘eu’ imaginário do falante se conectar com a realidade material e a comunidade humana. Ou seja, embora a palavra e o objeto não sejam realmente uma coisa só, embora a palavra institua um jogo na aproximação do objeto, a palavra permite uma compreensão e um entendimento do objeto como parte de um universo de significados (ou cosmos). Daí a alegria da transformação espiritual que Helen Keller vivenciou ao entender a palavra água pela primeira vez.”
Quem foi Walker Percy?
Walker Percy foi um escritor americano, conhecido por seus romances filosóficos. Nascido em Birmingham, Alabama, sua prosa mescla questionamento existencial, sensibilidade e fé católica. Autor premiado, ganhou o National Book Award com The Moviegoer.
Formado em medicina pela Universidade de Columbia, Percy chegou a fazer estágio no Hospital Bellevue, em Nova York, mas nesse período contraiu tuberculose, experiência que o levou a abandonar a carreira de médico e começar a de escritor. Passou os quatro anos seguintes tentando se recuperar da doença em alguns sanatórios – provação que o levou não só à escrita, mas a um tipo peculiar de escrita, a que encaminha a questionamentos existenciais.
Suicídio, por exemplo, foi um tema muito presente na vida de Walker Percy. Seu avô e seu pai tiraram a própria vida, tragédias que perseguiram o jovem – e toda a família – até o fim. Anos depois da morte de seu pai, sua mãe morreu de acidente de carro, fato que Percy considerou também ter sido suicídio.
Como era de esperar, o assunto permeou sua obra. Depois desses tristes acontecimentos, Walker foi morar com o tio, William Alexander Percy, quem considerou “o homem mais extraordinário”. Poeta e escritor, “tio Will” era um romântico inveterado.
Já sua relação com o catolicismo começou na leitura de Santo Agostinho. O escritor também manteve bastante contato com a obra de Søren Kierkegaard e Fiódor Dostoiévski – aliás, outros dois autores estudados em Ortodoxia Subversiva.
Walker Percy publicou seis romances e duas coleções de não ficção. Ainda em vida, alcançou sucesso crítico e financeiro e é considerado um dos principais romancistas católicos.
Por que dedicar tempo à leitura?
Além de ser uma experiência magnífica, de prazer ou entretenimento, a leitura desenvolve o imaginário, estimula o lúdico e o sensorial, e ajuda a lidar com as emoções, uma vez que trata de vivências e sentimentos universais, como saudade, inveja, ciúme, traição, amor…
A leitura também possibilita conhecer e compartilhar as várias dimensões da experiência humana – como a do suicídio, que é um tema difícil de abordar, nos seus diversos referenciais. Portanto, ler permite enxergar o mundo de maneira ampliada. Um importante exercício do silêncio, para que seja possível aproximar-se dos conceitos tratados no texto, ler é um convite à contemplação.
Da mesma forma – mas ao mesmo tempo de maneira contrária –, a leitura estimula a curiosidade e funciona como um chamado para as experiências reais.
Em resumo, a leitura:
- Leva à reflexão.
- Levanta questionamentos.
- Estimula a imaginação.
- Permite a transformação do ser.
- Instiga a interatividade.
- Situa no mundo cada vez mais globalizado.
Agora, você acha difícil se concentrar na leitura?
Pois acredite, isso não acontece só com você.
É praticamente impossível perceber, numa única leitura, todas as sutilezas de um texto. Por exemplo, suas ambiguidades, as ironias, os lirismos, de que forma o autor tenta convencer, as referências intertextuais usadas, e não raro até a categoria na qual se encaixa. O que você precisa saber, contudo, é que uma leitura prazerosa não requer que você capture tudo isso. Basta que seja envolvente.
E esse é sempre o foco de nosso trabalho: publicar livros que alimentam a mente, a alma e que sejam excelentes companhias.
Mais informações sobre Ortodoxia Subversiva
A edição conta com cinco interessantes capítulos:
- A alma sitiada,
- O romance como contra mitologia,
- Política antipolítica,
- Crítica macro-histórica,
- O papel dos mistérios cristãos na vida da mente moderna.
Outros autores analisados por Robert Inchausti são:
- Dorothy Day
- Thomas Merton
- Martin Luther King Jr.
- E. F. Schumacher
- Wendell Berry
- Marshall McLuhan
- Northrop Frye
- Jacques Ellul
- Ivan Illich
- René Girard
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