Profundezas – Mergulhando em busca de si é um livro do mergulhador apineísta francês Guillaume Néry, um título muito especial no catálogo da É Realizações, e por duas razões.
A primeira, porque a narrativa é livre de uma conceituação obrigatoriamente estrita, o que permite uma leitura mais leve. Nem por isso o livro é raso, muito menos irresponsável. Ao contrário, de maneira simples, Néry trata das questões mais comuns da existência. Impossível não se identificar.
A segunda razão é porque Guillaume Néry mescla, com singeleza, detalhes específicos de seu universo – o do mergulho – com fatos cotidianos, e são justamente esses detalhes que fazem com que “mergulhemos” com ele, seja pelas lembranças de suas experiências empíricas, seja em suas abstrações.
Ler livros inspiradores está na ordem do seu dia? Se sim, Profundezas – Mergulhando em busca de si é a leitura perfeita para esses momentos em que, digamos, precisamos de razões extras para continuar a rotina. Livro é sempre a saída perfeita para esses momentos de restauração da ordem do dia ou de nossas emoções.
Profundezas foi escrito em colaboração com Luc Le Vaillant e foi editado pela Filocalia. A tradução ficou por conta de Patrícia Furtado Mendonça, que ainda presenteia o leitor com um interessante artigo, intitulado “Nos bastidores da tradução”.
Composto por um texto poético – para mergulhadores das águas e mergulhadores em si mesmo –, o livro Profundezas é constituído por 13 capítulos que unem informações técnicas próprias do mergulho, minúcias biográficas e reflexões filosóficas.
Quem é Guillaume Néry?
Nascido em Nice, Guillaume Néry tornou-se, em 2002, o mais jovem recordista entre os mergulhadores livres, quando alcançou 87 metros de profundidade – marca que, posteriormente, ele mesmo veio a superar.
Seu maior recorde – que também é o recorde francês – é de 125 metros abaixo da superfície do mar. Ao todo, Guillaume Néry bateu três recordes mundiais. Também instrutor de apneia e palestrante, vive em Nice com a família. A esposa Julie Gautier também é nadadora.
Para Guillaume Néry, o mergulho é um esporte que “conecta o ser humano com as águas ao seu redor, mas também com o mar que ele carrega, desde sempre, dentro de si”.
Confira mais um trecho de Profundezas – Mergulhando em busca de si!
“Vivo respirando ampla e profundamente, habitado pelo sopro dos homens. Mas nunca deixo morrer meu desejo de compreender de onde venho e para onde vou, homem vertical com suas perguntas de bolha de sabão.”
Durante a leitura, é interessante conhecer também sua rotina e alguns de seus segredos para uma boa performance: “a disciplina exige concentração e tranquilidade, preparação e desapego, avaliação e comprometimento”.
A história de Néry é prova de que o corpo humano possui uma bela e surpreendente capacidade de se adaptar à água e, dentro dela, de descobrir valores preciosos acerca da vida. Veja mais trechos interessantes:
“70% do corpo é constituído de água. 70% do planeta também é constituído de água. Para que as coisas se organizem, para que a quantidade de ondas ruins diminua, bastaria apenas que o corpo e os planetas se colocassem em uníssono com essa cultura da água, com essa dependência da água, e que celebrassem a água que está dentro deles, a água que faz deles o que são.”
Profundezas é um livro que tanto aguça o interesse pela leitura quanto supre o prazer de ler.
“Sou um mergulhador, um homem da água. Por isso nunca sonhei em ser golfinho, baleia ou cachalote. Não me vejo bem como homem-peixe ou mamífero marinho. Já é tão difícil ser um mamífero humano e escapar do determinismo de seu metabolismo, de sua biologia, de sua psicologia. Se pudesse escolher, eu preferia reencarnar como águia-real, pássaro das alturas, como um gavião que carrega pensamentos sombrios. Quero alturas bem elevadas e voos picados para apanhar a ratazana, o rato, para mastigar outros pequenos vermes. E, depois, deve ser uma delícia pegar aquelas correntes ascensionais quentes do verão que te jogam contra a falésia superaquecida.”
Uma leitura leve, interessante e inspiradora, Profundezas – Mergulhando em busca de si pode estar na sua estante ou ser aquele presente especial que você estava procurando.
“Sou bem pouco ‘antropocêntrico’. Tenho certeza de que a natureza vai ter sempre a última palavra. Ao contrário dos racionalistas e dos cientistas, acho que o homem só está aqui de passagem, que a Terra sobreviverá a ele e retomará o que lhe é de direito, aconteça o que acontecer.”
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