Sinceridade e Autenticidade – A Vida em Sociedade e a Afirmação do Eu é um dos livros do renomado crítico americano Lionel Trilling, publicado pela É Realizações.
Na obra, que pertence à Coleção Abertura Cultural, Trilling discorre sobre o processo pelo qual os dois conceitos — sinceridade e autenticidade — tomaram lugar de importância na vida moral da sociedade.
Para o autor, o tema é amplo e “quase coextensivo à cultura de quatro séculos”. O livro divide-se em seis capítulos, cujos temas são:
- Sinceridade: Sua origem e Ascensão
- A Alma Honesta e a Consciência Desintegrada
- O Sentimento do Ser e os Sentimentos da Arte
- O Heroico, o Belo, o Autêntico
- Sociedade e Autenticidade
- O Inconsciente Autêntico
Com essa reflexão, Trilling indica que mesmo “uma investigação meramente parcial pode ser de algum modo útil ao sugerir sua amplitude e sublinhar algumas das muitas ironias que ele engendra”.
Apesar de pouco conhecido no Brasil, Lionel Trilling é uma referência na crítica literária e nos demais assuntos ligados à cultura e à política. Seus livros oferecem profundidade, perspectivas e abordagens bastante originais.
Confira mais um trecho de Sinceridade e Autenticidade!
“Quem não gostaria de ser verdadeiro para com o próprio eu? Verdadeiro no sentido de leal, da fidelidade que jamais vacila; verdadeiro no sentido honesto, visto que não deve haver subterfúgios ao se lidar com ele; verdadeiro no sentido que lhe dão os carpinteiros e pedreiros, isto é, no sentido de alinhamento. Isso, porém, não é nada fácil. ‘Por que será’, disse Charles Dickens em carta escrita no ponto mais alto de sua carreira, ‘que […] ultimamente, quando entristecido, acomete-me o sentimento da felicidade que não conheci em vida e do amigo e companheiro que jamais fiz?’. Nós sabemos quem é esse amigo e companheiro jamais feito. Compreendemos, com Matthew Arnold, o quão difícil é distinguir o próprio eu a fim de alcançá-lo e ser, para com ele, verdadeiro.”
Agora, conheça mais sobre esse intelectual que influenciou uma geração de pensadores, entre eles Gertrude Himmelfarb, cuja obra A Imaginação Moral parte de Lionel Trilling.
Quem foi Lionel Trilling?
Lionel Trilling nasceu em 4 de julho de 1905, no Queens, em Nova York. Formou-se na Universidade de Columbia, instituição onde atuou como professor por quase toda a vida.
Foi professor de enorme prestígio, e em sala de aula exibia com naturalidade seu talento de mesclar filosofia e literatura. Sua forma de expor os temas levava seus alunos ao autoconhecimento, ensinando-os a tecer, de maneira consciente, relações com a moralidade.
Em Sinceridade e Autenticidade podemos ter uma ideia: “O quão imerso Hamlet está no tema da sinceridade é parte da leitura que todos fazem da peça.” Ou, quando aborda Hawthorne: “Sê verdadeiro! Sê verdadeiro! Sê verdadeiro! Mostra livremente ao mundo, se não teu pior lado, ao menos um traço a partir do qual este pior lado possa ser deduzido.”
Uma curiosidade interessante: Lionel Trilling deu aulas para Jack Kerouac e Allen Ginsberg, nomes importantes do movimento beat.
Casado com Diana Trilling, também crítica literária, integrou com ela o The New York Intellectuals, grupo que reuniu outros nomes de peso como a própria Gertrude Himmelfarb, além de Hannah Arendt, Daniel Bell, Irving Kristol e Saul Bellow.
Leia outro trecho de Sinceridade e Autenticidade
“Nós lemos a Ilíada, tal como as peças de Sófocles ou Shakespeare, e elas se aproximam tanto do que sentimos e pensamos que acabam por colocar abaixo, ou em suspenso, a imposta certeza de que a vida moral é condicionada por uma cultura específica; elas nos convencem de que a natureza humana jamais varia, de que a vida moral é única e, a seu modo, perene, e de que apenas um pedantismo atarefado e intrometido poderia insinuar o contrário.
Porém, lançando ainda outro olhar sobre o caso, esse juízo recua novamente. Percebemos então, com ávido cuidado, todos aqueles detalhes da crença, do pensamento e do comportamento que distinguem a moral de determinada época da moral de outra, e assim nos parece que uma percepção ágil e instruída da diferença das linguagens morais está na essência mesma da reação adequada à literatura.
A ambivalência que descrevo aqui é aquela mesma que eu experimento ao propor a ideia de que, em determinado momento da história, a vida moral da Europa acrescentou a si mesma um novo elemento: o estado ou a qualidade do eu que denominamos sinceridade.
No emprego que lhe damos hoje, essa palavra se refere sobretudo à congruência entre a declaração e o sentimento real. Seria realmente possível — faz algum sentido — afirmar que em determinado momento da história a valia atribuída a essa congruência se tornou um novo elemento da vida moral? Ela seria mesmo tão velha quanto a fala e os gestos?
Mitigo esse ceticismo, porém, ao refletir que essa palavra não pode ser aplicada a ninguém sem que se considere suas circunstâncias culturais. Por exemplo, não podemos dizer que o patriarca Abraão foi um homem sincero. Essa declaração parece cômica. A sinceridade de Aquiles ou Beowulf não está em questão: eles não têm nem carecem de sinceridade. Todavia, se questionamos se o jovem Werther realmente é tão sincero quanto pretende ser, ou então qual das duas irmãs da família Dashwood, Elinor ou Marianne, é vista por Jane Austen como dotada de sinceridade mais verdadeira, podemos seguramente esperar uma resposta séria, com opiniões que tomem partido de ambos os lados da controvérsia.”
Conheça outros livros de Lionel Trilling
Na É Realizações, você encontra outros dois imperdíveis livros de Lionel Trilling em língua portuguesa. Confira e conheça mais sobre a sua obra!
A Imaginação Liberal – Ensaios sobre a Relação entre Literatura e Sociedade
A Imaginação Liberal é uma das mais admiradas e influentes obras de crítica do século passado. Uma obra-prima de análise literária, representa também uma tomada de posição de Lionel Trilling em relação a alguns temas de política e sociedade.
A Mente no Mundo Moderno
O livro A Mente no Mundo Moderno é uma análise breve, porém arrebatadora. Alguns especialistas dizem que chega a ser profético. É mesmo impressionante como o texto é atual apesar de ter sido escrito por Lionel Trilling em 1972.
O autor denuncia os resultados políticos e sociais de uma forma de pensar que, já em sua época, anunciava se tornar dominante: a ideia de especialização como fragmentação do saber.
O que você descobrirá durante a leitura é que essa forma de pensar afasta o indivíduo da literatura, da filosofia e das artes.
O resultado? Um claro desnorteamento do mundo. Reflexão imperdível!
Gostou dos títulos de Lionel Trilling que temos em nosso catálogo? Que tal começar a conhecer sua obra lendo Sinceridade e Autenticidade na íntegra?
Confira mais um trecho!
“Se o homem sincero é aquele que evita ser falso sendo verdadeiro para consigo mesmo, temos que esse estado de existência pessoal não deve ser conquistado sem um intenso esforço. Não obstante, em certo momento da história alguns homens e classes de homens passaram a conferir a tal esforço suprema importância na vida moral; desse modo, por cerca de quatrocentos anos, o valor atribuído à iniciativa da sinceridade tornou-se um traço saliente, talvez até definidor, da cultura ocidental.”
Não espere mais. Adquira já seu exemplar!
Visite nossa loja on-line e conheça outros títulos de crítica social, política, poesia, religião e espiritualidade, teatro, música e cinema.
Acompanhe também nossas novidades pelo Instagram!