“Uma das características do totalitarismo é tornar todos os membros de uma sociedade cúmplices dele”, escreve Theodore Dalrymple no prefácio à edição brasileira de Viagens aos Confins do Comunismo.
Mais um livro magnífico do autor de Podres de Mimados, a obra elabora uma reflexão acerca da importância de recordar o passado comunista da Europa Central e Oriental.
Com tradução de Pedro Sette-Câmara, a publicação pertence à original e indispensável Coleção Abertura Cultural e possui 256 páginas.
Além do prefácio à edição brasileira, escrito pelo próprio psiquiatra inglês, a edição apresenta o prefácio original.
Viagens aos Confins do Comunismo é, sem dúvida, um dos títulos mais interessantes de Theodore Dalrymple, um dos autores mais requisitados do catálogo da É Realizações.
O livro é composto por cinco capítulos:
- Albânia
- Coreia do Norte
- Romênia
- Vietnã
- Cuba
Confira trechos de Viagens aos Confins do Comunismo!
A leitura é simplesmente imperdível!
Trechos do livro Viagens aos Confins do Comunismo
Fizemos uma seleção especial de trechos desta obra que não pode ficar de fora de sua biblioteca. Confira agora mesmo!
Capítulo 1: Albânia
“Onde a religião é obrigatória, sou ateu, mas, onde a religião é proibida, sou crente. Na Albânia, todo culto público acabou em 1967, quase um quarto de século depois de os comunistas tomarem o poder, quando a juventude albanesa decidiu — espontaneamente e com entusiasmo revolucionário, segundo explicação oficial — fechar permanentemente as igrejas e as mesquitas. Que opulência de bandidagem e de intimidação não está por trás dessa insípida explicação!”
“Os visitantes estrangeiros só podem entrar na Albânia em grupos supervisionados pelas autoridades, a menos que o governo albanês lhes faça um convite especial: uma improbabilidade no meu caso, já que nunca atuei como apologista do regime. Poucos grupos são permitidos a cada ano; são escoltados a todos os lugares, mas deve-se dizer que nem os albaneses têm permissão para sair de seu distrito de residência sem permissão das autoridades.”
Capítulo 2 de Viagens aos Confins do Comunismo: Coreia do Norte
“Era hora do discurso do Grande Líder. Até ali, a cerimônia inteira fora tão hitlerista, tão megalomaníaca, que presumi que o Grande Líder fosse o orador inflamado, um homem capaz de inspirar em seus ouvintes a febre da indignação e outras emoções agradáveis. Eu não poderia estar mais equivocado. Ele falava como um gerente de banco aposentado, recordando cheques que fora obrigado a devolver.”
“O entusiasmo com que o discurso do Grande Líder foi recebido não tinha nada a ver com o que era dito; só com quem dizia. Se ele tivesse recitado a lista telefônica de Pyongyang — presumindo que tal volume subversivo sequer exista — a multidão ainda teria aplaudido com lágrimas nos olhos. O contraste entre a banalidade de seu modo de falar e o êxtase da resposta era assustador.”
Capítulo 3: Romênia
“Quando cheguei à Romênia, fazia mais de quarenta anos que ela era um Estado comunista. Antes da tomada do poder, planejada pelos russos, o Partido Comunista Romeno (PCR) tinha mil membros. Logo surgiram disputas entre os líderes e os julgamentos-espetáculos. Um “projeto heroico”, o Canal Danúbio-Mar Negro, que, segundo dizem, teria consumido as vidas de 100 mil presidiários, foi iniciado, mas jamais concluído.”
“Minha guia e eu nos despedimos no hotel. O dever dela estava cumprido. O hotel era do tipo socialista hiltoniano, uma torre de concreto cinza, com elevadores insuficientes, de modo que, às vezes, você passava quinze ou vinte minutos pensando se ia diminuir as perdas e subir pela escada de incêndio ou simplesmente esperar um pouco mais. Como eu conhecia esses hotéis! […] Claro que o telefone era grampeado e, segundo Ion Pacepa, o chefe da inteligência romena, que desertou para os Estados Unidos em 1978 e escreveu um livro vil (não sem auxílio, suspeita-se), havia microfones e câmeras infravermelhas instaladas nas paredes de todos os quartos de hotéis usados por estrangeiros. Bem-vindo à Romênia.”
Capítulo 4 de Viagens aos Confins do Comunismo: Vietnã
“Assim que você dá sua primeira caminhada no Vietnã, você se dá conta de uma certa grosseria, não nas pessoas à sua volta, mas em você mesmo. Não sou gordo, nem particularmente alto, mas eu tinha a impressão de que meus movimentos eram desajeitados e abrutalhados em comparação com os dos vietnamitas, que pareciam realizar até as tarefas mais comuns com graça e flexibilidade. Essa impressão foi tão fortemente reforçada em nossa primeira noite em Saigon, em que fomos levados, um tanto contra a minha vontade, para uma performance de canto e dança “folclóricos”. Nos países comunistas, essas performances acontecem em cavernas de hotéis internacionais, onde os cidadãos comuns não podem adentrar, e são tão autenticamente tradicionais quanto os filmes de John Wayne são autenticamente históricos.”
“Hoje é rara a propaganda triunfalista no Vietnã, ao menos em comparação com outros Estados comunistas. Perguntei-me por que, e diversas explicações possíveis me vieram à mente. Primeiro, que os vietnamitas são, por natureza, um povo modesto. Segundo, que essa propaganda inflamaria uma população cansada da guerra e exasperada pelo desgoverno econômico que se seguiu a ela. (Porém uma sensibilidade desse tipo não é um traço comum dos partidos comunistas no poder). Terceiro, a propaganda triunfalista é exibida na proporção inversa do triunfo genuíno. A vitória militar dos vietnamitas foi real o bastante para não exigir ser absurdamente enfeitada. Qualquer que seja a razão, são poucas a vanglória e autoflagelação no Vietnã, e isso é muito agradável.”
Capítulo 5: Cuba
“Havana é como Pompeia, e Castro é seu Vesúvio. Suas palavras derramavam-se sobre a cidade, preservando-a de todo tipo de mudança, exceto a decadência. Essa cidade magnífica, a pérola de séculos de exploração, é uma ruína habitada; os habitantes são como uma tribo errante, que encontrou a metrópole deserta de uma civilização superior, mas morta, e decidiu viver nela.”
“As opiniões sobre Cuba e seus serviços sociais ficara tão ideologizadas — graças, em medida não pequena, ao estilo político de Castro — que não apenas é difícil desemaranhar a verdade da ficção ou de um pensamento positivo, mas até decidir o que constitui um fato relevante.”
Um livro instigante, do começo ao fim, Viagens aos Confins do Comunismo merece estar em suas próximas leituras!
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