Agostinho da Silva

George Agostinho Baptista da Silva (1906–1994), mais conhecido como Agostinho da Silva, foi um filósofo e escritor luso-brasileiro, um dos maiores pensadores de língua portuguesa dos tempos recentes.
 
Tendo concluído o ensino secundário com habilitação em Letras, se licenciou em Filologia Clássica e se tornou doutor (summa cum laude) na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Posteriormente, continuou os estudos na Sorbonne, no Collège de France e no Centro de Estudios Históricos de Madrid.
 
Censurado, perseguido e preso pelo Estado Novo de Antônio de Oliveira Salazar, autoexilou-se na América do Sul. Primeiramente no Brasil, entre fins de 1944 e meados de 1945, na sequência no Uruguai e na Argentina, de 1945 a 1947, depois instalando-se de fato no Brasil, a partir de 1947, onde viveu até 1969.
 
No curso desses 22 anos, Agostinho lecionou na Faculdade Fluminense de Filosofia (embrião da Universidade Federal Fluminense), na Universidade do Recife (futura Universidade Federal de Pernambuco), na Universidade Federal de Minas Gerais e na Universidade Federal da Bahia; trabalhou com Jaime Cortesão no Instituto Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores e na Biblioteca Nacional, e ainda esteve entre os professores fundadores da Universidade Federal de Santa Catarina, da Universidade Federal de Goiás, da Universidade Federal da Paraíba e da Universidade de Brasília – nesta última instituindo o Centro Brasileiro de Estudos Portugueses. Na UFBA, criou e dirigiu o Centro de Estudos Afro-Orientais, ainda hoje em atividade.
 
Colaborou com a Editora Globo de Porto Alegre, traduzindo autores clássicos como Plauto, Terêncio e Lucrécio. Trabalhou como articulista do jornal O Estado de S. Paulo. Entre muitos outros escritos, concebeu no Brasil três novelas e ensaios como Um Fernando Pessoa e Reflexão à Margem da Literatura Portuguesa.
 
Foi assessor de política externa do presidente Jânio Quadros com relação à África, auxiliando-o, por meio do Centro de Estudos Afro-Orientais, na instituição do ensino de língua portuguesa em universidades do Senegal, da Nigéria, do Gana e do Zaire, e igualmente na Universidade Sofia, de Tóquio. Atuou também como diretor de cultura da Secretaria de Educação e Cultura do Estado de Santa Catarina.
 
O filósofo foi professor convidado da pós-graduação da Universidade da Cidade de Nova York (CUNY), além de conferencista na Universidade Harvard e na Universidade da Califórnia. A convite da Unesco e com apoio do Itamaraty, palestrou em universidades do Japão, de Macau e do Timor.
 
Seu sebastianismo erudito, continuador de Fernando Pessoa, influenciou, no Brasil, o tropicalismo de Caetano Veloso e o cinema novo de Glauber Rocha. George Agostinho manteve também uma relação próxima e profícua com Dora e Vicente Ferreira da Silva, Gilberto Freyre, Oswald de Andrade, Murilo Mendes e Cecília Meireles, além de Ariano Suassuna, Pierre Verger, Darcy Ribeiro e José Aparecido de Oliveira. Sua interlocução com muitos dos intelectuais portugueses que, como ele, encontravam-se exilados no Brasil foi igualmente ampla: de Eudoro de Sousa e Hernani Cidade a Adolfo Casais Monteiro, de Eduardo Lourenço e Manuel Rodrigues Lapa a Jaime Cortesão.
 
Depois do retorno a Portugal – ensejado pelo acirramento da ditadura brasileira e o abrandamento da salazarista –, iniciou um novo período de intensa produção escrita, na forma de artigos, ensaios, correspondência pública e livros, regularmente publicada em inúmeros periódicos portugueses e brasileiros. Realizou diversas conferências, palestras e entrevistas. Atuou como consultor do Instituto Camões (então Instituto de Cultura e Língua Portuguesa), colaborador da Fundação Calouste Gulbenkian e membro do Instituto de Relações Internacionais da então Universidade Técnica de Lisboa.
 
Recebeu em 1987 a grã-cruz da Ordem Militar de Santiago da Espada. No fim da vida, tornou-se nacionalmente conhecido em Portugal, depois de entrevistas que concedeu a programas de TV portugueses. Postumamente, foram-lhe concedidas, no Brasil, a Ordem Nacional do Mérito Educativo (1994) e a Ordem do Mérito Cultural (2003) pelas relevantes contribuições à educação e à cultura brasileiras.