SOBRE O LIVRO
Filosofia Concreta é o magnum opus do pensador brasileiro Mário Ferreira dos Santos, um ousado sistema marcado pelo diálogo com a ciência contemporânea, pelo esforço de reproduzir o rigor matemático e pela atenção às conquistas da tradição filosófica, as quais são corroboradas por novas demonstrações. A tese fundamental, de que o autor deriva centenas de outras, é tão simples quanto inconteste: “alguma coisa há”. Esse ponto arquimédico revela o solo em que Mário se apoia e o trajeto que se propõe percorrer: seu esteio é a ontologia, praticada com o máximo de objetividade. Para o autor, a descrição racional da realidade, embora tarefa caracteristicamente humana, é em si mesma imune à falibilidade destes que a executamos – desde que desempenhada com rigor. O projeto contudo não é solitário, e o filósofo se filia a uma tradição iniciada por Pitágoras, concedendo destaque à sofisticação conceitual alcançada pela escolástica, notadamente por Duns Scot, de quem a obra ratifica incontáveis postulados. Ainda assim, não se evitam as polêmicas necessárias, e o livro dirige críticas enfáticas a nomes como Kant e Heidegger e a posturas como o relativismo e o niilismo. Interações proveitosas também se dão com o pensamento contemporâneo, destacadamente com a fenomenologia, e implicações são apontadas para campos como o da teologia filosófica.
Mário Ferreira dos Santos foi um dos maiores filósofos autodidatas brasileiros, a cada geração admirado por leitores que redescobrem ou as suas célebres traduções – de Nietzsche, Platão, Amiel e outros – ou os seus livros autorais, editados pelo próprio durante as décadas de 1950 e 1960. Seu legado é de largo alcance, tendo ele sido honrado com um verbete na Enciclopedia Filosofica do Centro di Studi Filosofici di Gallarate (Itália) e proclamado o patrono da Cadeira nº 15 da Academia Brasileira de Filosofia. Leitor agudo tanto da tradição como do cenário filosófico contemporâneo, Mário soube como poucos recuperar a pertinência de teses antigas e medievais e julgar os potenciais e as deficiências das teorias modernas.
Essa capacidade aparece até mesmo num ensaio concentrado em apresentar um modo próprio de pensar, como é o caso da Filosofia Concreta. Em mais de um ponto do argumento, o autor contrasta ou aproxima suas ideias às de pensadores recentes, como o ontologista francês Louis Lavelle e o neoescolástico alemão Josef de Vries, por sua vez uma referência também para figuras como Bernard Lonergan. O que leitores após leitores notaram ser preciso para que um tão estimulante projeto se tornasse ainda mais exitoso era aumentar o apuro editorial que o próprio autor já começara a dedicar à obra – e é isso o que buscamos oferecer aqui. Esta é a primeira edição crítica de Filosofia Concreta, com a qual a Editora Filocalia inaugura a coleção Biblioteca Mário Ferreira dos Santos, coordenada por João Cezar de Castro Rocha. O texto foi estabelecido, e cuidadosamente revisado, mediante o cotejo das cinco versões originais da obra: dois datiloscritos preservados no Arquivo Mário Ferreira dos Santos / É Realizações Editora e três publicações do próprio autor, pela Editora Logos. Aliás, o leitor poderá conferir extensas amostras desse material, por meio de fac-símiles dispostos num dos posfácios e numa seção iconográfica – tanto excertos selecionados dos primeiros textos como documentos relacionados à sua produção. Outra novidade do lançamento são as notas que localizam bibliograficamente a quase totalidade das fontes e citações a que Mário recorreu. A isto se somam, no rodapé, as notas explicativas de Luís Mauro Sá Martino, que já constavam da publicação anterior, pela É Realizações Editora. O volume traz também textos críticos que discutem o projeto ferreiriano e seu significado. No fim, índices analítico e onomástico são oferecidos para facilitar o manuseio da obra por leitores e pesquisadores. Além do acabamento de luxo, em capa dura revestida por tecido, o livro conta com projeto gráfico de Alexandre Wollner, um dos maiores designers modernos.
Endossos
“Escritor e pensador extraordinariamente profundo.” - CARLO BERALDO, Enciclopedia Filosofica do Centro di Studi Filosofici di Gallarate (Florença, Itália)
“É uma audácia, depois de Mário Ferreira dos Santos (...), [negar que] temos uma filosofia nativa.” - BRUNO TOLENTINO, Veja (20/3/1996)
“Mário Ferreira dos Santos, talvez mais do que a maioria dos filósofos brasileiros, era profundo como um abismo.” - LUIZ FELIPE PONDÉ
Curiosidades
• Filosofia Concreta é a obra-prima de Mário Ferreira dos Santos.
• O autor é um dos mais relevantes filósofos autodidatas havidos no Brasil, e tem tido seus textos redescobertos a cada nova geração de leitores.
• A Editora Filocalia e a É Realizações Editora têm concedido aos escritos de Mário suas primeiras edições críticas, com rigorosa revisão e localização das fontes bibliográficas, além da inclusão de índices analítico e onomástico.
• No caso deste lançamento, o estabelecimento do texto resultou da consulta minuciosa, conduzida durante meses a fio, dos dois datiloscritos originais e das três primeiras publicações do escrito.
• Foram mantidas as notas explicativas de Luís Mauro Sá Martino, primeiramente publicadas na edição de 2009 da Filosofia Concreta pela É Realizações Editora.
• Esta e as demais reedições do autor contam ainda com fac-símiles do material conservado no Arquivo Mário Ferreira dos Santos / É Realizações Editora, como os datiloscritos originais, anotações manuscritas, edições de época e reconhecimentos obtidos pelo filósofo.
• Nesta reedição, o leitor poderá conferir as páginas iniciais dos dois datiloscritos e de uma tradução inacabada ao francês, trechos selecionados das três edições originais, a apresentação da Filosofia Concreta no Catálogo Geral de Obras da Editora Logos, a transcrição de uma carta enviada por Mário Ferreira dos Santos em 1953 ao então diretor do Instituto Brasileiro do Livro, Augusto Meyer, e o obituário do filósofo na Revista Brasileira de Filosofia, assinado por Luís Washington Vita.
• Fazendo jus à importância do título, ele agora chega ao público sob projeto gráfico de um dos maiores designers modernos, Alexandre Wollner, e acabamento de luxo, com capa dura revestida por tecido.
• Também enriquecem o volume três textos críticos: João Cezar de Castro Rocha, coordenador da Biblioteca Mário Ferreira dos Santos, sintetiza o projeto da Filosofia Concreta, identifica suas sementes em textos anteriores de Mário e o põe em diálogo com expressões da arte e do pensamento recentes; Luís Mauro Sá Martino, no ensaio que introduzia a edição anterior da obra, traça um panorama do argumento ferreiriano, reconstrói o percurso que levou à sua formulação e situa esse projeto na grande tradição filosófica; André Gomes Quirino, pesquisador do Arquivo Mário Ferreira dos Santos / É Realizações Editora, reproduz em detalhe, e com abundância de imagens, o processo de reescrita do livro, cotejando os dois datiloscritos e as três edições originais.
• O coordenador da coleção, João Cezar de Castro Rocha, é um dos mais relevantes intelectuais brasileiros em atividade, crítico literário, professor titular de literatura comparada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e doutor pela Universidade de Stanford.
• Mário Ferreira dos Santos é hoje um dos autores mais lidos de nosso catálogo.
SUA LEITURA SERÁ ESPECIALMENTE PROVEITOSA PARA:
• Leitores de Mário Ferreira dos Santos.
• Estudantes, formais ou autodidatas, de filosofia.
• Professores de filosofia brasileira, filosofia contemporânea ou ontologia.
• Pesquisadores de temas como filosofia brasileira da segunda metade do século XX, sistemas filosóficos contemporâneos, pitagorismo, críticas ao relativismo, críticas ao niilismo, filosofia neoescolástica em língua portuguesa, comentários a Duns Scot, recepção da filosofia de Kant no Brasil, recepção da filosofia de Heidegger no Brasil, recepção da fenomenologia no Brasil, desdobramentos filosóficos da física contemporânea, metodologia filosófica, filosofia da religião, intelectualidade paulistana das décadas de 1950 e 1960, intelectuais gaúchos nascidos no início do século XX.